Roger Marson
Parabéns ao autor, me interessei bastante em ler o livro. E parabéns ao seu tópico. Quando o conteúdo é bom e interessante, não importa o tamanho do texto, é fácil de ler até o fim. O autor é o Perseu e a imprensa, a medusa.
em Off topic > Padrões de manipulação da mídia
Em resposta ao tópico:
Se você está cansado de verificar na TV ou mesmo na internet situações incessantes em que a mídia atua com total falta de ética e completo despreparo técnico, denegrindo a imagem de uma entidade ou algo afim, como o seu time de coração, aconselho a ler o que escrevo a seguir.
Existem várias evidências que comprovam a manipulação midiática, porém alguns ainda persistem em falar em exageros quando se trata desse assunto. Acreditam que tal fato acontece somente aplicado a fatos internacionais, em que os interesses de Estado ou de megacorporações está associado, mas não é somente isso. Um fato simplesmente ignorado ou uma notícia mal dada é resultado da desinformação ofertada pelo jornalista, embora estupidez e a ignorância também desempenhem um papel relevante nessa situação.
Parece estúpido dizer, mas o efeito da manipulação é que os órgãos da imprensa não refletem a realidade. Apresenta uma referência indireta à realidade, criada e desenvolvida, mas apresentada no lugar da realidade real. Seria algo similar a um espelho deformado que não reflete a imagem do objeto real. Assim a sociedade é colocada diante de uma realidade artificialmente criada e que se contradiz, se contrapõe e frequentemente se superpõe e domina a realidade real que vive e conhece. É importante ressaltar que nem toda imprensa age dessa forma, e que nem todo jornalista atua dessa maneira.
Existem padrões de manipulação da mídia que podem ser analisados facilmente. O primeiro deles é o padrão de ocultação (1): esse modelo consiste basicamente na ocultação das informações existentes ligadas ao fato jornalístico. Porém, há a concepção para empresários e empregados do órgão de comunicação do que são fatos jornalísticos e não-jornalísticos. E claro, a imprensa é, muitas vezes, direcionada a comunicar somente os fatos jornalísticos. Vamos usar uma situação relacionada ao futebol brasileiro para exemplificar: a Crefisa é atualmente a empresa patrocinadora do Palmeiras, mas que patrocina também a arbitragem do campeonato. Sim, mas e qual o problema? O problema é que esse modelo de patrocínio é, segundo a FIFA, ilegal. É ilegal, pois cria conflito de interesses já que é patrocinadora do Palmeiras, que por sinal, era líder até ontem. Mas então, por que isso não é amplamente divulgado na mídia? A resposta desta pergunta eu deixo para a reflexão de vocês.
Existe ainda o padrão de fragmentação (2): ao eliminar os fatos não jornalísticos, o restante da “realidade” é fragmentado em vários minúsculos fatos particularizados, desconexos, sem dinâmica e sem processos próprios, ou ainda revinculados de maneira arbitrária não correspondendo aos vínculos da realidade. Os aspectos do fato a ser transmitidos são divididos e o órgão correspondente seleciona o eu apresentará ou não ao público. Vamos usar outro exemplo do futebol, o Corinthians no jogo contra o Palmeiras saiu derrotado por 1x0. Aconteceu um lance de gol claro do Bruno Henrique no fim da partida, mas esse fato foi fragmentado e não levado a público com a mesma veemência que provavelmente ocorreria se fosse uma situação oposta. Esse é um exemplo apenas, mas poderíamos citar outros que ocorreram até aqui no campeonato. E é lógico, reconheço que os árbitros podem errar sim, afinal são humanos, passíveis de erro, mas a imprensa deve cumprir seu papel de veicular o fato real, embora não seja o que vemos.
Um terceiro padrão é o da inversão (3): com o fato já fragmentado, descontextualizado, este modelo opera o reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância das partes, a substituição de umas por outras e prossegue assim, a desconstrução da realidade original e a criação de uma realidade artificial. Um exemplo fácil, o cartão amarelo que Fagner deveria ter recebido no jogo contra o Flamengo que vencemos por 4x0. A mídia inverteu a importância do fato, pois o lateral corintiano deveria sim ter recebido um cartão amarelo, mas esqueceu que o próprio atleta do Flamengo vítima da ação deveria ter sido expulso momentos depois, e que ainda culparam o jogador corintiano por ter lesionado o flamenguista, o que não aconteceu, pois este último se machucou sozinho em um lance contra o próprio Fagner. Ocorreu uma inversão dos fatos, e que supostamente, prejudicou o desempenho time carioca. Existem ainda subpadrões dentro do padrão da inversão, mas não é o foco no momento.
O último padrão que citarei é o da inversão da opinião pela informação (4): essa sequência abusiva de padrões de manipulação leva a outro tipo, o de substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. Seria louvável se o órgão apresentasse, além da informação, também a opinião, mas o órgão apresenta a opinião no lugar da informação e acarreta no agravante de fazer a opinião fazer passar pela informação. Por esse motivo, não fiquem indignados quando pseudointelectuais expressarem sua opinião como verdade absoluta, assim como vemos constantemente nos programas esportivos (Milton Neves, Neto, e vários outros), simplesmente ignorem e desliguem a TV. Utilizem de outros mecanismos para estarem sempre por dentro dos fatos.
Caso se interessem pelo assunto e por uma boa leitura, o livro que utilizei para embasar a minha análise chama-se “Padrões de Manipulação da Grande Imprensa”, cujo autor é Perseu Abramo.