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Fabio (à esq.) foi detido mesmo sem participar da confusão no Rio

Arquivo pessoal

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Desumano

Com doença de pele, corinthiano preso injustamente no RJ não recebe medicação adequada

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Passados mais de 20 dias da briga entre policiais militares e torcedores alvinegros ocorrida no Maracanã, o cenário dos torcedores presos pouco mudou. As famílias, porém, continuam se movimentando para provar a inocência de pais, filhos e irmãos que, mesmo sem qualquer envolvimento no confronto, foram detidos de maneira arbitrária pela polícia.

Um dos casos mais preocupantes é o de Fabio Barbosa Tomé, de 39 anos, que também estava no setor destinado à torcida paulista naquela tarde de domingo. Líder de uma das torcidas organizadas que não se envolveu no confronto, ele acabou levado pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe).

Conhecido pelos amigos próximos como “Okocha”, Fabio vive há dez anos com Joseane Ribeiro Campos, com quem possui uma filha, de cinco anos, e um enteado, 14. Presidente da sede de Diadema (SP) da Estopim da Fiel, uma das principais uniformizadas do Corinthians, ele organizou uma caravana de aproximadamente 50 integrantes, divididos em um ônibus, carros e avião, ao estádio do Maracanã.

Fábio não se envolveu no confronto, e não aparece em nenhuma das imagens da briga. Mesmo assim, foi detido, e agora vive um drama dentro da prisão. Ao Meu Timão, a mulher conta que o marido, diagnosticado com psoríase – uma doença de pele ligada ao sistema imunológico –, não tem recebido o tratamento adequado na Cadeia Pública José Frederico Marques.

“Ele não recebeu o medicamento nenhuma vez. No dia em que ele foi preso, que teve a audiência de custódia (terça-feira, 25), eu percebi que ele estava sem a medicação. Foi aí que começou o procedimento da juíza saber que ele tinha essa doença. Pedi pra um rapaz que mora lá entrar com pomadas e Dorflex, então o advogado teve que falar com a juíza pra poder autorizar a entrada”, relata em entrevista ao Meu Timão.

Pai de família, Fabio acabou preso após episódio no Maracanã

Foto: Arquivo pessoal

O caso de psoríase de Fabio é raro e requer atenção especial. Após ele passar por diversos dermatologistas e seu quadro não apresentar evolução, a família conseguiu tratamento gratuito pela Santa Casa de Santo André, no ABC Paulista. Entretanto, como teve a prisão preventiva decretada há mais de 20 dias, vive em condições alarmantes.

“O hospital ia conseguir a medicação para ele. Ele fez a biópsia e teria que retornar no dia 24 de outubro (segunda-feira, um dia depois do jogo) para pegar o resultado do laudo com os exames de sangue. Só que ele não foi”, conta Joseane. “Eu pergunto muito para o advogado qual o tratamento que ele está recebendo. Ele me fala: ‘Um curativo’ (...). Estão fazendo estudos do caso dele na Santa Casa, é diferente, é difícil encontrar pessoas que têm. Ele estava sendo usado pra fazer esse tratamento e foi diagnosticado que deveria receber essa medicação, que custa entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil”, acrescenta.

Apaixonado pelo Timão, Fabio está detido em Bangu há mais de 20 dias

Foto: Arquivo pessoal

Semanas de angústia

Além da preocupação com a saúde debilitada de Fabio, Joseane precisa lidar com os problemas decorridos da prisão arbitrária do esposo, como o aperto financeiro e a saudade dos filhos – a mais nova chegou até a apresentar febre alta e diarreia em razão da ausência do pai. “É aniversário dela terça-feira que vem, o meu é na segunda, e a única coisa que ela fala é que o ‘papai tem que chegar do jogo antes do aniversário dela’, porque senão ela não quer festa, não quer bolo”, lamenta. “Tive que mandá-los para a casa do meu irmão no interior. Estou totalmente perdida, sem minha família, minha casa vazia, não consigo ir pra faculdade, não consigo trabalhar direito”, diz, aos prantos.

Joseane, que havia falado com Fabio no dia do tumulto, pouco depois da confusão, vive um pesadelo ainda sem data para terminar. Poucos minutos após a confusão, eles se falaram por uma conversa através do aplicativo Whats App - na mensagem, Fabio tranquiliza a esposa, diz que se manteve longe da briga e dá a entender que não pretende mais frequentar os estádios. Ao final do jogo, porém, Fabio acabou detido e foi responsabilizado por um crime que não cometeu.

Mensagens enviadas pelo WhatsApp registraram último contato de Fabio com Joseane

Foto: Reprodução

Assim como André Luis Tavares da Silva , de 39 anos, e Gustavo Inocêncio Meira Rosário , 24, também presos de maneira imerecida pela confusão com PM do Rio de Janeiro, Fabio teve o habeas corpus negado pelo Juizado do Torcedor. Segundo a mulher, o advogado contratado pela família para cuidar do processo viajou à capital carioca a fim de viabilizar sua liberação. “Temos testemunhas presentes no jogo que sabiam onde o Fabio estava realmente e ele não aparece em imagem nenhuma”, defende Joseane. “Seria melhor eu estar lá, eu trocaria de lugar com ele, sem problema, devido à situação emocional e saúde dele, que é muito grave. Não é uma doença normal”.

Diretora social da Estopim durante oito anos, ela reitera a inocência do cônjuge e faz um apelo: “Sei que ali tem inocentes e culpados. Hipocrisia a gente não pode deixar acontecer. A gente faz muitos trabalhos sociais, entregamos leites nas sedes, fazemos festa de Natal, de Páscoa, arrecadação de roupas, alimentos. O propósito da torcida é outro: ir aos jogos e fazer festa. A gente zela muito por isso, pela paz nos estádios”, frisa. “Que pelo menos as pessoas enxergassem que nem todos que estão lá são vagabundos, são bandidos. É indignante”, finaliza.

Caravana da Estopim sequer estava próxima do confronto com a PM

Foto: Fabio Tomé

Caravana da Estopim sequer estava próxima do confronto com a PM

Foto: Fabio Tomé

Veja mais em: Corinthianos presos no Rio.

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