Em 45 dias, o Corinthians foi do sonho da tríplice coroa a uma das maiores crises da década. A derrota da última quarta-feira para o CSA, combinada a outra série de fatores em Maceió, evidencia uma situação caótica na qual jogadores, comissão técnica e diretoria se encontram.
O Meu Timão traça abaixo uma espécie de linha do tempo para a torcida entender como o departamento de futebol profissional foi por água abaixo no último um mês e meio.
Antes disso...
O período de 45 dias citado tem como ponto de partida a derrota para o Fluminense , no Mané Garrincha, ainda pelo primeiro turno do Brasileirão. Ali os comandados de Fábio Carille perderam uma invencibilidade de 14 jogos, que durava desde a retomada do calendário nacional pós-Copa América. A crise, porém, já se desenhava antes dos resultados negativos.
Nas semanas que antecederam o início da crise, o desempenho do Corinthians já era contestado por parte da imprensa e da torcida. Os dois empates contra o próprio Fluminense nas quartas de final da Copa Sul-Americana e as outras duas igualdades frente a Avaí e Ceará no Brasileirão ligaram sinal de alerta sobre a passividade da equipe alvinegra.
Ainda assim, o Corinthians ali sustentava, mesmo que sem muita segurança, a maior invencibilidade do ano, a melhor defesa do Brasil, dava sustos em times de alto nível como Flamengo e Palmeiras e ainda se dava ao luxo de sonhar com a tríplice coroa em 2019.
Independiente 'del baile'
A primeira pancada mais forte sofrida pelo Corinthians foi logo três dias depois da quebra da invencibilidade. O time que não perdia havia 14 jogos perdeu logo duas vezes seguidas. O revés de 2 a 0 para o Independiente del Valle mostrou uma equipe completamente submissa e perdida, mesmo diante de sua torcida, frente a um adversário claramente desconhecido.
No jogo de volta, a equipe até mudou a postura (e Carille, a escalação). Ainda assim, quando os equatorianos se propuseram a jogar, dificultaram e muito a vida do Corinthians, que não conseguiu sequer vencer em Quito (precisava de um triunfo por três gols de diferença).
Vitórias 'de mentirinha'
O Corinthians até conseguiu estancar a potencial crise que surgia com a eliminação para um time com folha salarial quase equivalente aos vencimentos mensais de jogadores como Cássio, Fagner e Mauro Boselli. Como? Engatando três vitórias no Brasileirão, sobre Bahia Vasco e Chapecoense, se isolando no G4 e encostando a oito pontos do líder Flamengo.
O problema é que, apesar dos nove pontos conquistados em nove disputados, o Corinthians não fez nenhuma boa exibição. As três vitórias foram "no limite", jogando mal mesmo diante de adversários, assim como o Del Valle, inferiores técnica e financeiramente.
Jejum de vitórias
A partir do empate em 0 a 0 contra o Grêmio, o Corinthians não venceu mais. Foi depois desse jogo que Mauro Boselli entrou publicamente em rota de colisão com Carille . O time engataria nova igualdade contra o Athletico-PR, por 2 a 2 (com um dos gols anotados justamente pelo centroavante argentino), e ali deixou claro ser quase incapaz de vencer "jogos grandes" neste Brasileirão - algo que não acontece desde o Majestoso de maio .
Especificamente o tropeço em casa diante de um Athletico-PR que já está "de férias" pós-título da Copa do Brasil gerou críticas mais pesadas ao trabalho de Fábio Carille. O nome do próprio rubro-negro Tiago Nunes passou a ser ventilado nos corredores do Parque São Jorge.
A situação se agravou com a derrota para o São Paulo naquele que, até então, havia sido o pior jogo do Corinthians na temporada. Carille concedeu ali uma entrevista considerada por muitos como tenebrosa na medida em que atacou a todos direta ou indiretamente: jogadores, diretoria e seu próprio trabalho ao longo dos dez meses já corridos da atual temporada.
A partir de então, Carille cedeu à pressão de torcida e imprensa e tentou mudar a escalação, apostando em nomes mais jovens como Bruno Méndez, Carlos Augusto, Janderson e Gustavo. Por outro lado, Boselli voltaria ao banco de reservas mesmo destoando positivamente do restante do elenco nas exibições anteriores.
As mudanças pouco surtiram efeito, e o Corinthians engatou empates contra Goiás e Santos intercalados com uma derrota em casa para o Cruzeiro. Ciente da proximidade do jogo contra o líder Flamengo, no Macaranã, a pressão atingia seu auge para o duelo frente ao CSA.
Fatídica viagem para Maceió
Absolutamente tudo deu errado na viagem de três dias do Corinthians à capital de Alagoas.
- o elenco entrou em atrito com a torcida ao pouco interagir com a Fiel mesmo diante da surpreendente positiva recepção dos torcedores locais no desembarque da delegação ainda na noite de segunda-feira;
- na única entrevista pré-jogo do Corinthians concedida em Maceió, o atacante Gustavo se enrolou ao explicar o episódio do dia anterior no aeroporto. A declaração de que os jogadores estavam cansados da viagem não pegou bem;
- o treino, que costuma ser aberto à torcida em viagens do time para longe de São Paulo, foi mais uma vez fechado a torcedores e, claro, imprensa;
- mesmo diante do mistério sobre a escalação e a própria preparação da equipe, o Corinthians fez contra o então 18º colocado do Campeonato Brasileiro sua pior atuação na temporada, sofrendo incontestável derrota de 2 a 1 para o CSA ;
- com a derrota, o Corinthians foi ultrapassado pelo Grêmio na classificação, caiu para a sétima posição e deixou assim a zona de classificação à Libertadores ;
- no pós-jogo, ainda no estádio Rei Pelé, o técnico Fábio Carille se recusou a falar com os jornalistas. O presidente Andrés Sanchez assumiu a "bucha" e se mostrou descontrolado em praticamente todas as respostas , elevando o tom de voz, falando palavrão e sugerindo haver clima de férias entre os jogadores que têm mais nove partidas pela frente no ano;
- na mesma entrevista, o próprio mandatário corinthiano canta a bola para uma "derrota anunciada" do Timão diante do Flamengo, no próximo domingo, caso não haja mudanças drásticas na forma de trabalhar de todos - jogadores, comissão técnica e a própria diretoria (o Corinthians pode ficar nesta quinta a incríveis 25 pontos de distância dos cariocas na classificação);
- pela primeira vez no ano, alguém da alta cúpula corinthiana se negou a bancar a permanência de Carille até o fim da temporada ;
- já na madrugada desta quinta-feira, a delegação foi recepcionada sob cobranças de alguns torcedores na porta do hotel onde está hospedada. Um pouco mais tarde, mais pessoas se dirigiram ao local numa tentativa de invasão , armando confusão com seguranças do clube e quebrando a fachada do estabelecimento;
- um dos muros do Parque São Jorge amanheceu pichado com mensagens de cobrança direcionadas a jogadores, comissão técnica e diretoria;
O Corinthians inicia já nesta quinta-feira sua preparação para o jogo de domingo contra o Flamengo. O clube conta com esquema especial de segurança desde o embarque em Maceió ao desembarque em Guarulhos, bem como na chegada ao CT Joaquim Grava.