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Chega mais, Messi!
Lucas Faraldo

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Opinião de Lucas Faraldo

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Chega mais, Messi!

Sócrates, à esquerda; Messi, centralizado; Tevez, à direita

Foto: Montagem: Meu Timão

É muito bonito um jogador de futebol ser valorizado por ser do bem. Por defender ideais contra a desigualdade social, fazer sua parte e às vezes simples e unicamente ter empatia. "Eu me preocupo com pessoas morrendo." Nos tempos atuais, assim como em outros, expor esse sentimento já é indicativo de bom caráter, principalmente se a pessoa é influente.

Jogador de futebol no planeta bola pode ser ídolo. Um espelho para milhões de meninas e meninos. Cristiano Ronaldo e Messi, os maiores do mundo para uma, duas, muitas gerações, são dois dos que mais ajudam hoje no combate à pandemia do novo coronavírus.

Segundo jornais de Portugal e Espanha, Cristiano Ronaldo doou mais de R$ 20 milhões em leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) a dois hospitais; Messi teria doado mais de R$ 5 milhões a um outro hospital, além de estar defendendo corte de até 70% nos salários dos jogadores do Barcelona e ajuda do elenco aos demais funcionários do clube.

Em resumo: são craques que priorizam vidas e agem para minimizar os danos econômicos hoje agravados pela global desigualdade social (tão característica do Brasil).

Cristiano à parte, Messi quem me chamou atenção por uma curiosidade histórica relacionada ao Corinthians. O jornal francês L'Equipe retratou em sua capa desta terça o atacante argentino como Che Guevara, conterrâneo revolucionário marxista das décadas de 50 e 60.

Dois dos melhores jogadores que já vestiram a camisa do Corinthians em toda a história, os também latinos Sócrates e Tevez passaram por experiências parecidas nos últimos anos, sendo associados aos ideais simbolizados atualmente pela figura de Che Guevara. Não custa reforçar: aos ideais. Ninguém ao fazer tais comparações se refere às atitudes condenáveis pelas quais o ex-guerrilheiro tenha sido responsável. Óbvio. Mas não custa reforçar.

Autor da biografia Doctor Socrates: Footballer, Philosopher, Legend, lançada em 2014, o jornalista escocês Andrew Downie afirmou o seguinte numa entrevista de 2017: "Sócrates usou seu poder como jogador de futebol para fazer pessoas que não gostavam de política a se interessar pelo assunto. Ele sabia que, quando um político falava, as pessoas não prestavam nenhuma atenção. Mas, quando ele falava, todo mundo parava para ouvir."

Na capa da biografia, o eterno camisa 8 alvinegro aparece com uma faixa "México segue em pé", usada na Copa de 1986 como homenagem a um povo que se reergueu em um ano de um terremoto de magnitude 8,1 para sediar o Mundial. Ou seja: usou uma faixa. Uma faixinha em referência ao próximo. Empatia. Só isso. "Sócrates está parecido com Che Guevara", disse Andrew se referindo à foto do ídolo corinthiano usada na capa de seu livro.

Capa do livro Doctor Sócrates: Footballer, Philosopher, Legend

Capa do livro Doctor Sócrates: Footballer, Philosopher, Legend

Reprodução

Em 2009, apenas três anos após sair do Corinthians, Tevez foi capa da revista inglesa Shortlist. Equiparado a Che Guevara, a referência era à perspectiva de o jogador argentino comandar uma revolução no Manchester City ao lado de outros craques não-europeus, como o brasileiro Robinho, o paraguaio Roque Santa Cruz e o togolês Adebayor.

Passados dez anos, ficou claro o porquê de, nas ruas de Apache, na periferia de Buenos Aires, grafites de Tevez serem tão comuns como os de Che Guevara em Havana. A série Apache, A Vida de Carlos Tevez, lançada pela Netflix, mostra a história de um jovem jogador (e torcedor) do Boca Juniors que revolucionou o conceito de sonho em sua comunidade.

Tevez foi capa de revista inglesa três anos após sair do Corinthians

Tevez foi capa de revista inglesa três anos após sair do Corinthians

Reprodução

Sócrates, Tevez e Messi são exemplos. Pra crianças fãs de futebol e pra jogadores do Corinthians e de outros times Brasil e mundo afora. O futebol pode alimentar esperança. Já em 2011, Sócrates, em viagem a Cuba, se encantou com uma cena: meninos jogando bola na rua em frente a grafites de Che Guevara e outros personagens símbolos de ideais revolucionários. "Isso é futebol arte", disse ali, segundo a viúva, Kátia Bagnarelli.

Sócrates, Tevez e tantos outros espalhados por mais de um século de história do Corinthians e do futebol são reconhecidos também pelos golaços fora de campo. Chega mais, Messi!

Uma data para não esquecer jamais

Há exatos 56 anos, era plantada no Brasil a semente que floresceria como Democracia Corinthiana. Foi em 31 de março de 1964 que teve início oficialmente a Ditadura Militar. O clube do Parque São Jorge, a exemplo dos últimos anos, se posicionou nas redes sociais: "sempre estivemos, estamos e estaremos na luta pela manutenção da democracia no Brasil!"

Veja mais em: Ídolos do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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