O Corinthians finalmente encontrou um Caim para acabar com Abel
Opinião de Pedro Mairton
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Ramón 'Caim' Díaz acabou com o Abel Ferreira no Dérbi
Foto: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão/Centauro
Não é preciso ser religioso para conhecer a famosa história de Caim e Abel, narrada em Gênesis como o primeiro homicídio da humanidade.
Caim era irmão mais velho de Abel e o matou por inveja, já que, diferente do caçula, teve oferta recusada por Deus, que o condenou a vagar pelo mundo após o homicídio.
No Dérbi, há poucas semelhanças com a história bíblica. Quando Abel Ferreira chegou ao Palmeiras, em outubro de 2020, o sentimento do torcedor corinthiano depois dessa data foi parecido com o de Caim, pois viu o rival ser protagonista no futebol brasileiro e, principalmente, no clássico.
Sem um Caim no Corinthians, Abel foi dominante no Dérbi, com sete vitórias, cinco empates e apenas uma derrota em 13 partidas disputadas.
O português chegou a enfrentar sete nomes diferentes no cargo de técnico do Corinthians, mas nenhum foi capaz de impedir a supremacia dele no Dérbi
No entanto, isso começou a mudar a partir de novembro de 2024, quando Abel finalmente enfrentou Caim. Ou melhor: Ramón Díaz.
Mesmo condenado no cargo pelas eliminações nas semifinais da Copa do Brasil e Sul-Americana na véspera do clássico, Ramón Díaz conduziu o Corinthians a uma vitória que virou a chave não só dele, mas também da equipe: 2 a 0, no sufoco e com grandes atuações individuais que ainda marcou o fim do jejum de três anos sem vencer o rival.
E não foi uma vitória isolada, como houve entre os outubros de 2020 e 2024. Poucos meses depois, Ramón Díaz enfrentou Abel mais três vezes e não perdeu nenhuma.
A nova vitória dessa vez foi na casa deles, em uma final, para acabar com outro jejum de seis anos sem superar o rival como visitante. E ainda teve mais dois empates, sendo o último o mais decisivo e que do melhor jeito Corinthians terminou com título em plena Neo Química Arena para arrancar o grito de campeão da Fiel, entalado na garganta desde 2019.
Ramón “Caim” Díaz não esteve sozinho na missão de derrubar Abel. Os comandados também merecem créditos, em especial Yuri Alberto e Hugo Souza. O atacante marcou três vezes contra o Palmeiras sob o comando do argentino, sendo um dos gols na final, enquanto o goleiro teve atuações impecáveis em todos os clássicos, com direito a dois pênaltis defendidos, sendo o último que garantiu o título.
E diferente de Gênesis, quem acabou expulso no final foi Abel, enquanto Caim foi coroado. Talvez a oferta para Deus tenha sido Félix Torres, que fez de tudo para que a noite não terminasse como deveria, mas, assim como nos livros bíblicos, tudo estava predestinado a um bem maior.
A imagem de Abel saindo para os vestiários da Arena teve gosto ainda mais especial após os infinitos acréscimos. Independente com quem Corinthians e Palmeiras terão na beira do campo nos próximos Dérbis, o Timão nunca mais pode permitir que o rival se sobressaia como fez nos últimos anos. É preciso ampliar a sequência invicta e não se contentar somente com o título Paulista.
A virada de chave iniciada em novembro completou um ciclo na última quinta-feira, mas isso não significa que acabou. Quanto ao Dérbi, o Corinthians precisa manter a mesma fúria e impiedade de Caim em qualquer fase do rival para que nunca mais volte a ficar por baixo.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
