Eu, Roberto Avallone e dois 'causos' que tive com ele
Opinião de Roberto Gomes Zanin
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“Alô. É do Jornal da Tarde? Eu gostaria de falar com a Editoria de Esportes”.
“Alô, é da Editoria de Esportes? Gostaria de falar com o Roberto Avallone”.
Do lado de cá da linha estava eu, jovenzimho, ao telefone da loja de sapatos do meu pai. Um corinthiano e Sennista fanático, mas admirador desde sempre de um bom texto.
Por isso lia religiosamente a coluna “Bola de Papel”, que Avallone escrevia com raro talento.
Era o começo de 1988. Naquela época, não havia interatividade, internet, redes sociais.
Aqui e em qualquer lugar, se você odeia ou ama o que o jornalista escreve, basta um clique e pode interagir com ele.
Antigamente, era assim. Você tinha que escrever uma carta ou, como eu, descobrir o telefone do jornal e ligar para elogiar, criticar ou debater.
“Alô”, atendeu Avallone.
“É o Avallone? Prazer, sou seu xará, me chamo Roberto Zanin. Leio sua coluna todos os dias e queria discordar do que você escreveu sobre Ayrton Senna”.
(Senna e Piquet haviam trocado farpas e Avallone havia escrito que não entendia porque Ayrton era ídolo sem ter nenhum título, enquanto Piquet, já tricampeão não tinha tanta admiração popular. O jornalista arrematou escrevendo, em sua coluna, que Senna era uma “eterna promessa”).
“Pois não. Do que você discorda?”, indagou Avallone.
Disparei: “Você compara Piquet com Senna, mas não leva em conta o tempo de carreira de ambos, nem o fato de Ayrton não ter tido até hoje um carro minimamente capaz de lhe dar um campeonato. Além disso, você diz que para o piloto ser reconhecido e admirado precisa ser campeão. Discordo. Ronnie Peterson, Gilles Villeneuve, Carlos Reutmann, entre outros, não foram campeões e foram grandes pilotos”.
Ele retrucou: “Xará, eu me atenho aos números. Um tem três títulos; o outro tem zero.”
Terminei pedindo que ele tivesse paciência e que, depois de alguns anos, mudaria de ideia.
Senna foi campeão e, feliz coincidência, encontrei Avallone nos vestiários do Pacaembu, após um Dérbi.
“Não sei se você se lembra, liguei para você um tempo atrás e falei sobre o Senna”.
“Lembro, sim”.
“Então, ele ainda é uma eterna promessa?”
“Agora, não”.
Anos depois, em 1994, Senna já havia morrido. Meu pai, palmeirense, foi com meu irmão assistir a um jogo e encontram Avallone.
“Alô, Beto?”
Seu ídolo Avallone está aqui. Fala com ele.
“Fala, xará. Sou solidário a você. Quando todos chamavam Telê Santana de “Pé Frio”, você o chamava de ´Mestre´. Agora, porque você questionou um lance do jogo Palmeiras e São Paulo, ele disse que você era suspeito para falar porque você é palmeirense.
“Obrigado, xará. Mas já estou acostumado. Nosso nome é Ro-Ber-To. Roma, Berlim e Tóquio. É nome de guerra”.
Desde então, continuei acompanhando Avallone pela TV, depois pela Internet e, ultimamente no SporTV, que teve a feliz ideia de resgatá-lo para as novas gerações.
Para mim era impossível não gostar daquele palmeirense (ninguém é perfeito, mesmo).
Quem me devolverá aqueles tempos de juventude, aqueles tempos românticos das mesas redondas, que não foram nunca mais as mesmas, interrogação?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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