Corinthians fez com Ralf o que Ralf fez com o Corinthians
Opinião de Rodrigo Vessoni
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Vejam a data destacada por mim abaixo.
9 de dezembro de 2015.
O print é de um vídeo divulgado pelo Corinthians quando Ralf foi à sala do Jurídico no Parque São Jorge assinar o contrato de renovação por mais dois anos. No vídeo, o volante comemora o vínculo até final de 2017.
Pois bem.
29 dias se passam. Menos de um mês...
... e chega o dia 7 de janeiro de 2016.
O então mandatário do clube concede entrevista coletiva no CT. Revoltado, Roberto de Andrade explica o desmanche do time campeão brasileiro. Um dos trechos é o seguinte:
"Nenhum clube da China fala com Corinthians. Nada. Nem por e-mail, telefone, nada. Os times da China tratam direto com jogador e depois pagam a multa rescisória. Quando a gente sabe, já estão saindo. O Ralf já até foi embora. Pagaram a multa do pré-contrato".
Preste atenção a esse trecho:
"Pagaram a multa do pré-contrato".
Pois bem.
Poucas horas depois de levarem Renato Augusto, os dirigentes do Beijing Guoan foram alertados de uma questão jurídica que faria a rescisão do contrato de Ralf custar apenas € 1 milhão. Mas que seria necessário uma definição até o dia 5 de janeiro daquele ano de 2016.
E por que dia 5 de janeiro? Porque a sede da CBF estava em recesso até essa data devido às férias dos funcionários, voltando a funcionar no dia 6.
E por que isso era bom para o time chinês?
Porque aquele contrato assinado por Ralf em dezembro, na verdade, era apenas um pré-contrato, que só se transformaria num contrato efetivo após ser registrado na Confederação Brasileira de Futebol.
E aí... o Corinthians se lascou...
Diante da impossibilidade de registrar o contrato na CBF, aquele pré-contrato era o único documento válido até o dia 5. E, por lei, as multas rescisórias dos pré-contratos não podem ser altas, não podem ser tão substanciais quanto às multas dos contratos efetivados após registro. Ou seja, com apenas € 1 milhão (dinheiro de pinga para os chineses) era possível colocar Ralf no mesmo voo de Renato Augusto.
E isso foi feito pelos chineses.
Hipnotizado com o salário absurdo que ganharia na China, Ralf aceitou que sua pequena multa rescisória fosse paga e se mandou pra China no maior estilo "fui...partiu!".
Após cinco anos de Corinthians, Ralf sequer concedeu entrevista coletiva para agradecer ao clube que o tirou do ostracismo após passagens por times pequenos. Nada. Nenhuma explicação. Simplesmente pegou suas coisas e vazou.
O Corinthians recebeu aquela quantia de € 1 milhão (irrisória perto do que poderia ser) e Ralf foi jogar no Beijing Guoan, onde permaneceu até o fim de 2017, fazendo sua independência financeira.
Em resumo: em 2016, Ralf pensou nele, no seu futuro e nem se importou que, 29 dias antes, havia assinado um documento de sua renovação com o Corinthians.
Em 2020, a diretoria e a nova comissão técnica pensaram apenas no novo modelo de jogo que Ralf, na visão deles, não se encaixa. E veio a dispensa.
A história acima foi contada por mim não para defender o técnico Tiago Nunes ou a diretoria da decisão tomada em relação a Ralf.
Muito menos para demonizar um dos maiores jogadores da história do Corinthians, com nada mais nada menos que 437 jogos e incríveis 8 títulos pelo clube (farei uma coluna sobre o tamanho do Ralf assim que oficializarem sua saída).
Nada disso.
Contei essa história que pouca gente sabe apenas pra mostrar que quase sempre no futebol profissional não há bandidos nem mocinhos, não há heróis nem vilões. No futebol profissional as relações quase sempre são... apenas profissionais. E as decisões, de todos os lados, são tomadas de maneira fria.
Paixão e amor pelo clube? Virão sempre de você, torcedor. Serão sempre sua marca. De mais ninguém.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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