Que momento estamos vivendo?
Opinião de Victor Farinelli
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Há três meses atrás, esse título traria outro ponto. Que momento!
Acabávamos de conquistar o bicampeonato paulista, o segundo título consecutivo em cima do maior rival, faturando o grand slam paulista neste século (ganhar o torneio em casa e pelo menos uma vez na casa de cada um dos maiores rivais), arrancávamos no Brasileirão dando pinta de repetir o ano passado, campanha impecável na Libertadores, e se tudo isso ainda não era suficiente, ainda víamos o rival se desfazer no maior chororô da história do futebol mundial porque não aguentou perder pra gente em campo, e foi buscar consolo no tapetão.
Até que um dia, quando ninguém esperava, o técnico decidiu ir embora. E ninguém esperava porque ele mesmo disse, no dia anterior, que as especulações sobre a sua saída eram fantasias da imprensa, com direito a xingar jornalistas e tudo. Dali em diante foram dois meses de histórias tristes: queda de rendimento monstro no Brasileirão, só não perdeu a vaga na Libertadores porque já estava garantida de antes, jogador saindo, comissão técnica saindo, dívida assustadora, aumento dos preços dos ingressos, mais jogador saindo (até mesmo uma hora antes do clássico), diretoria e presidente fazendo piadinha pra fingir que tá tudo bem, mas dizendo que se chegar oferta não vão segurar ninguém...
De repente, o que era um sonho virou pesadelo em tempo recorde, e isso que ainda teremos um mês de janela de transferência aberta e a angústia de perder mais gente continua. Mas foi aí, quando perdemos um clássico pro maior freguês e alguns antis (e mesmo alguns dos nossos, devemos reconhecer) já começavam especular que esse time que sobrou com sorte brigaria pra não cair, eis que de repente o time melhorou. Duas vitórias que tranquilizaram a torcida e apontaram o que talvez seja o novo líder do time em campo: o incansável Romero.
Em meio a essa gangorra de emoções, a pergunta continua a mesma: que momento é este que estamos vivendo? O coração corinthiano, acostumado ao sofrimento, é colocado à prova por uma realidade que parece ser indefinível. As incertezas no horizonte do Corinthians são tantas que nem sei se quando este texto estiver publicado já não vai estar defasado, por novas vendas inesperadas (enquanto eu escrevo, o Romero e o Pedrinho ainda são jogadores do Coringão) ou problemas institucionais que caem do céu (ou saem dos cofres).
É hora de respirar, e tentar ver além dos problemas. Podemos ver por exemplo, o que acontece com o clube em outras instâncias. Ganhamos a Liga Ouro de basquete com vitórias inesquecíveis no playoff final, e voltamos a estar no lugar onde nosso basquete sempre mereceu estar. O projeto do vôlei continua crescendo aos poucos, e caminha pra ser outra fonte de títulos em breve.
O futsal continua sendo um dos mais competitivos do Brasil. As categorias de base continuam passando por turbulências, e mesmo assim já chegamos a uma final e continuamos mostrando garotos com potencial – mesmo com a tristeza de que talvez eles já estejam atrelados a empresários e os Corinthians tenha poucos ou quase nenhum direito sobre eles.
E se queremos abrir um enorme sorriso de satisfação, basta lembrar do nosso time de futebol feminino, uma máquina de destroçar rivais, invicto na temporada, com 20 vitórias em 23 partidas, um ataque quase centenário e um time que encanta.
Encanta tanto quanto os gritos femininos de uma tarde-noite em que elas, as mulheres corinthianas, literalmente dividiram a arquibancada com os homens, e que conquistem cada vez mais espaço. E que a torcida toda conquiste cada vez mais espaço! Como tem conquistado. Com os treinos abertos que são cada vez mais vibrantes, e que decidiram nossos dois últimos títulos. Com iniciativas como o mutirão para pintar as arquibancadas da Fazendinha, ou a comemoração do centenário do nosso primeiro estádio, a Ponte Grande. Que momento! Que momento vive a nossa torcida!
É aí que está o Corinthians, acima das notícias banais do business esportivo, e inclusive acima do perde e ganha do esporte em si. Está na fé do seu povo, essa fé de que, mesmo na adversidade, nosso grito é tão forte que vai empurrar todos os nossos times pra frente. Mesmo com as dificuldades criadas pelo próprio clube, como o alto preço dos ingressos do futebol masculino, a torcida estará lá pra empurra, especialmente quando o Corinthians mais necessita.
E o time parece ter entendido isso. O desacreditado Loss, cuja cabeça já era pedida por muitos, começa a encontrar um padrão de jogo. O time ainda não é uma maravilha, está muito longe disso, mas está melhorando aos poucos. E acompanhando a fé da torcida de que o Corinthians tem que lutar sempre. Esse começo do Loss lembra um pouco o do Carille, que começou jogando mal, causava desconfiança, até que ganhou aquele Dérbi com um jogador a menos, o casamento definitivo com uma torcida que foi ao delírio naquela noite, e aquele time, que vinha melhorando aos pouquinhos, deslanchou. O Loss só está melhorando aos pouquinhos, ainda não deslanchou, mas talvez seja o caso de dar mais algumas chances.
Não é que eu seja um otimista ou esperançado – pelo contrário, não consigo ver, por exemplo, como vamos lidar com uma defesa que perdeu seu melhor zagueiro e não trouxe reposição, por decisão presidencial – mas acho que, independente dos erros e acertos, das sortes e azares, dos bons e dos maus ventos, quem vai empurrar o Corinthians pelo que resta de 2018, e também para todo o sempre, é a força que vem do seu povo.
Nascemos quando um grupo de trabalhadores, gente do povo, queria um clube que fosse construído pelo povo e para o povo. Assim é até hoje, e assim continuará sendo, em todos os momentos. Inclusive neste, seja lá o que ele for.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.