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A chilenização do Corinthians
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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A chilenização do Corinthians

A paciência da torcida com Carille e com todos do Corinthians está chegando ao fim

Foto: Rodrigo Gazzanel /Agência Corinthians

Desde o dia 18 de outubro, o mundo descobriu que o mito da prosperidade social e econômica do Chile é tão falso quanto o de que o árbitro de vídeo acabaria para sempre com as controvérsias no futebol.

Milhões de pessoas foram às ruas protestar, primeiro contra o aumento do preço do metrô, e logo agregaram a insatisfação com a saúde e a educação (ambos sob hegemonia das empresas), as aposentadorias miseráveis produzidas pelo sistema de capitalização e previdência privada, a privatização da água, os perdões que o governo dá às dívidas dos grandes empresários, entre outras razões.

Durante muito tempo, o establishment chileno acreditou que esses abusos poderiam durar para sempre, que as pessoas jamais questionariam o modelo econômico imposto a ferro e fogo pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e vigente até hoje. Mundo afora, aqueles que usavam o Chile como exemplo também achavam que jamais teriam que retificar seus argumentos, apesar dos muitos índices econômicos – como o que mostra que a desigualdade no país, o abismo econômico entre os mais ricos e os mais pobres, é comparável à de países como Ruanda e Omã – que já permitiam supor que em algum momento a bolha iria estourar.

E finalmente estourou! As pessoas foram às ruas com sangue no olho, dizer aos políticos de todos os setores ideológicos que já não aguentam mais o modelo econômico, e que o Chile não é brincadeira… Sim, já ouvimos essas frases em algum lugar, não?

Gritos como esse que nós cantamos nos treinos abertos mostram que, assim como os chilenos, a torcida corinthiana é considerada uma torcida aguerrida e exigente. Porém, nos últimos tempos, temos tolerado muitas coisas realmente inacreditáveis, desde o péssimo manejo das finanças do clube, a farra dos empresários da bola que faturam trazendo jogadores de qualidade duvidosa ao elenco – e que às vezes acabam nem jogando, ou entram em campo duas partidas antes de serem emprestados –, até as horríveis performances em campo do time de Fábio Carille, especialmente nas últimas rodadas.

Assim, como o Chile, os modelos corinthianos dentro de campo (o padrão tático estabelecido desde os tempos de Mano Menezes) e fora dele (o padrão administrativo estabelecido desde a primeira presidência de Andrés Sanches) chegaram a ser considerados exemplos de sucesso e estabilidade no Brasil. Novamente, mitos que ruíram com o tempo.

A sorte de dirigentes é que a torcida alvinegra ainda parece estar no período de acúmulo de frustrações, depositadas numa enorme bolha que ainda não estourou. O que pode ser uma oportunidade, e aqui quero deixar claro que este texto não pretende incitar à violência como forma de reagir aos problemas dentro de campo e na diretoria.

O que trago aqui é mais que nada um alerta: não é só a sequência de empates e derrotas do time de futebol masculino – o feminino, pelo contrário, vai muitíssimo bem, obrigado. É a forma bisonha como o time do Carille joga. É a falta de raça dos jogadores, porque mesmo se o esquema tático não está funcionando, pelo menos os caras podem por vontade em campo e tentar equiparar com essa luta, mas nem isso. É ver que tem jogador nesse elenco que não foi feito pra jogar num clube como o Corinthians, onda a raça em todos os jogos é uma exigência talvez maior que o talento em si. É ter que admitir que merecemos perder em Maceió, ou achar incrível como conseguimos um empate no último clássico, ou se perguntar como chegamos aos 45 pontos e ainda estamos na briga por vaga na Libertadores, jogando assim tão mal.

Também é o fato de que a crise financeira do clube começa a colocar em risco a propriedade do novo estádio e outros patrimônios. São cada dia mais decepções, a cada novo resultado, a cada nova notícia negativa. Fora os títulos do feminino, ou algumas proezas do basquete e do futsal, quando foi que celebramos o último bom momento ou uma notícia boa do futebol masculino? Ou um acerto da nossa comissão técnica? Ou da nossa diretoria?

Os protestos na frente do hotel em Alagoas e as pichações no muro do Parque São Jorge após a partida contra o CSA são sinais: chega uma hora que essa bolha explode. E não porque eu quero, e na verdade eu não quero que isso aconteça, por isso espero que os responsáveis pelos resultados dentro e fora de campo coloquem a mão na consciência e façam algo agora, enquanto ainda há tempo. Não é que a torcida vai parar o clube como os chilenos pararam o país, mas historicamente a Fiel é rude quando perde a paciência, quem conhece a história do clube sabe disso.

Diretoria, comissão técnica e também alguns jogadores que andam decepcionando ainda estão em tempo de mudar o rumo desse barco, até porque ambos já levaram o clube a momentos de sucesso. Alguma resposta devem ter para reverter as situações difíceis que enfrentamos. Por favor, vamos parar de brincar com a paciência da torcida.

Veja mais em: Fábio Carille, Elenco do Corinthians e Diretoria do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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