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O menino: uma vez para nunca esquecer
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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O menino: uma vez para nunca esquecer

Coluna do Walter Falceta

Opinião de Walter Falceta

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O menino: uma vez para nunca esquecer

Amigo de estádio: torcendo como em final de campeonato

Foto: Walter Falceta Jr.

Sobrou um ingresso! Vender? Nem pensar. Agora, é procurar um mano necessitado deste valioso produto.

Ali, entre os ambulantes, a molecada reunida, ajudando a movimentar a economia doméstica.

“E aí, quem nunca entrou lá dentro do estádio?” Todos os três erguem as mãos, resolutos, curiosos sobre o porquê da pergunta.

“Quem vai lá comigo?” O interesse é de todos. Como escolher? Eu é que não... O sujeito que vende cerveja da caixa encardida de isopor escolhe um, o maior.

“Vai lá, Jacó, vai tu”. Caras de choro dos demais. Fazer o quê? Bora lá, Jacó.

Mas que nome é esse? Pai evangélico? Jacó, em homenagem ao terceiro patriarca, neto de Abraão?

“Eu não sei de onde vem esse apelido”, protesta o moleque. “Meu nome é Gabriel Santos, mas o pessoal aqui sempre ganha apelido”.

A prosa é boa. Meu companheiro de jornada esportiva conta da vida difícil e também divertida na favela, ali entre a “da Paz” e a dos “Três Cocos”, mudadas todas, reinventadas, no movimento vertiginoso da cidade.

O lugar onde mora até tem nome. “Chamam de Favela da Noite, mas só aquele pedacinho, mas é aqui, ali, descendo o outro lado do morro do estádio”.

Trilha o apito o árbitro. Para Jacó, ou Gabriel, parece final de campeonato. Em pé, numa das fileiras do bloco 424, no setor Leste, ele torce cantando cada jogada, atento, nervoso, enrolando dedos com dedos.

Mostro para ele a torcida adversária. Em listras amarelas, parecem abelhinhas. Ele ri, mas logo quer acompanhar a jogada cerebral de Danilo.

Meu amigo estanca de vez em quando para ouvir as palavras de ordem dos Gaviões. Depois, repete tudinho, sem erro, com disciplina e vigor.

Ele pula exaltado com o gol de Fagner, no crepúsculo do primeiro tempo.

Aí, vem o intervalo e ele permite mais um tanto de resenha. Conta que mora na favela, mas nunca repetiu na escola. O pai é mecânico. “Minha mãe trabalha lá no Centro”, arremata.

Assegura que seu pedaço de favela é tranquilo, não tem crime, é só gente boa que trampa legal. Um ajuda o outro.

Vem o segundo tempo. Jacó reclama do árbitro que trava o jogo a todo momento. Continua fascinado com Danilo, que trama o lance do segundo gol de Fágner. Mais comemoração. Olhos brilhantes.

Um sujeito ruivo do nosso lado, perfumado, resolve se unir na confraternização. Jacó se espanta com tanta generosidade e simpatia. Mas logo está trocando gentilezas efusivas. A torcida do Corinthians é assim, lugar de convergências.

Avança o tempo e meu amigo olha para as faixas erguidas pelos Gaviões, contra a emissora tal e o safado estadual que surrupiou a merenda das crianças.

Logo, antes que eu entenda o cântico, já está ele erguendo a voz: “ladrãããooo, ladrãããooo, devolve o futebol do povão”.

Essa eu não conhecia. Ele confessa que também não. Mas é o que a parte mais barulhenta da torcida estava gritando.

Tem o Hino do Corinthians, tem a “ola”, que eu sincronizo com ele: “vai, é agora!” E mais um gol alvinegro, de Alan Mineiro. Sorvete ChicaBon para comemorar.

Depois dos 3 a 0, é hora de finalizar a festa. Saímos na multidão. Lá na rua, Jacó já é novamente o menino da cidade. Precisa encontrar um parceiro, um cara que não tem um braço, corinthiano velho.

Despedimo-nos. Agradeço pela companhia. Ele retribui, promete não esquecer.

Caramba, foi bom ver um pedacinho da Itaquera querida incluída, visitando a casa que também é sua.

Pois, como ensinava o presidente Battaglia, este é o time do povo; e é o povo que vai fazê-lo!

Quer ser feliz? Faz o mesmo. Em tempos de tanta intolerância, de tantos fascismos, experimenta a solidariedade. Anima o espírito. Tudo melhora!

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Walter Falceta

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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