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Como acabar de vez com a violência no futebol?
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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Como acabar de vez com a violência no futebol?

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Opinião de Walter Falceta

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Como acabar de vez com a violência no futebol?

A médica Célia Medina, do Coletivo Democracia Corinthiana, atuando em atividade educativa

Foto: WFJr.

Dias atrás, iniciou-se nesta coluna uma polêmica em torno do tema. O motivo: o episódio envolvendo a torcida de La U na Arena Corinthians e minha análise sobre as razões estruturais do comportamento feroz e agressivo de parte dos torcedores.

Antes de trabalhar com os magníficos exemplos de torcedores do Atlético Nacional, da Colômbia, e dos próprios corinthianos, vale repassar o conceito.

Concordo com aqueles que consideram a força coercitiva da lei absolutamente despreparada para lidar com os amantes do esporte.

Não se alimenta aqui qualquer tipo de preconceito contra os trabalhadores públicos da área de segurança, muitas vezes mal remunerados, expostos a inúmeros perigos no exercício de suas funções.

Por mais bem-intencionados que sejam, no entanto, reproduzem nas praças esportivas as filosofias e práticas ultrapassadas que lhes são ensinadas nas corporações.

O resultado é conhecido. Frequentemente, a atividade de proteção, do indivíduo e do patrimônio, gera desconforto, tensão e acaba estimulando o que se pretende evitar: a própria violência.

Evidentemente, estão mais predispostos à reação aquelas porções da multidão que, no cotidiano, vivenciam o abandono do Estado, a negação de direitos e a exclusão social.

As medidas proibitivas e restritivas mostram-se absolutamente inócuas. Não há mastro de bandeira, mas o punho cerrado serve como arma. Não se encontram as torcidas no estádio, mas a contenda mortal ocorre nas estações de trem, nas avenidas e nas quebradas.

Mas o que se pode fazer para mudar esse panorama? Pois bem, muitos brasileiros se comoveram com as atitudes dos torcedores do Atlético Nacional quando do desastre com os atletas da Chapecoense.

No entanto, por descaso da mídia, poucos conhecem os pilares da “cultura de paz” cultivada pela torcida verde e branca de Medellín.

A barra (organizada) Los del Sur tem seus problemas, seus esquentados e mal comportados, como ocorre em todas as multidões. De vez em quando, seus líderes precisam passar um pito ou mesmo expulsar um integrante do grupo.

No entanto, trabalham duro para mudar consciências e estabelecer um padrão de atitude condizente com a civilidade.

Fundada em 1997, a torcida agregou operários, camponeses, funcionários públicos, estudantes e até... gente ligada ao tráfico e a outras modalidades de crime.

Por quê? Porque a ideia era utilizar o futebol para mudar o modo de pensar e agir das pessoas. Los del Sur conversam muito, discutem, até mesmo brigam, mas estão construindo, aos poucos, uma visão de concórdia no mundo do futebol.

Para isso, criaram um centro cultural (aberto a qualquer cidadão) e uma biblioteca, auxiliam estudantes pobres e atuam também em ações educativas nas prisões apinhadas de Medellín.

O coordenador do polo de cultura, Raul Martinez, costuma dizer que o estádio pode ser um lugar onde as pessoas aprendam a dizer não à barbárie.

Segundo ele, a violência em seu país começa por seis milhões de camponeses expulsos de suas terras, pelos milhares de assassinatos praticados por motivos políticos e pelos danos causados pela exclusão social.

“Por isso, não toleramos a ocorrência de uma morte por causa do futebol”, afirma. O projeto “Con La Pelota em La Cabeza” propõe um cultura de compreensão e entendimento, unindo torcedores de diferentes times em atividades conjuntas.

Você pode pensar que esse tipo de iniciativa funciona somente com os estrangeiros. Não é bem assim.

Dá para imaginar, por exemplo, um ex-presidente palmeirense palestrando no Parque São Jorge, tratando de sua paixão futebolística e de política esportiva?

Pois foi o que ocorreu no último dia 6 de Abril, quando o Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO), realizou um evento para celebrar os 100 anos da rivalidade entre Corinthians e Palmeiras.

Diante da plateia, Luiz Gonzaga Belluzo, economista que já dirigiu o rival, debateu com cordialidade e elegância com os corinthianos, tratando do que une e do que separa alvinegros e alviverdes. Um belo exemplo de esforço bem-sucedido na construção de amizade e respeito entre diferentes.

No dia seguinte, o Coletivo Democracia Corinthiana (CDC) fez sua parte neste processo, atuando como co-promotor da "Primeira Copa MSEs de Futebol", no Centro Assistencial Cruz de Malta, na periferia sul de São Paulo.

Do que se tratou? De um torneio esportivo que visou a acolher, integrar e educar jovens que, depois de cometer atos infracionais, se submetem a medidas sócio-educativas.

Trabalhando com meninos corinthianos, mas também são-paulinos, palmeirenses e santistas, o CDC divulga a cultura de paz e semeia a boa consciência cidadã.

O certame deste dia 7 teve a presença de dezenas de garotos da região. Foi vencido pelo MSE Parque Bristol, nos pênaltis, depois de um empate em 2 a 2 com o valoroso MSE Vila Sônia.

Durante a partida, obviamente, ânimos exaltados. Em seguida, churrasco, confraternização, show de rap, grafitagem e palestras sobre civilidade e cidadania. Tudo na paz!

Os bons exemplos estão aí, na Colômbia e na comunidade corinthianista. Violência não se combate com mais violência, mas com empatia e educação.

Da conduta punitiva e repressora das forças coercitivas da lei, só geramos a quarta maior população carcerária do mundo, em rápido crescimento.

Chegou a hora de botar a ignorância de lado, de se semear o entendimento para se colher a bela flor da harmonia.

Que o futebol dê o pontapé inicial.

Veja mais em: Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Walter Falceta

Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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    @glauberto.gabriel em

    Quando nós pararmos de agir como animais e sim como humanos.

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    @corintianosp em

    Simples mudando as leis ou aplicando-as...

    O Brasil é o pais da bagunça.

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    Pizza_eh_deiz 965 comentários

    62º. @didimoco em

    Simples, faz como a Inglaterra: ficha os caras que fizeram merda em estádio e proíbe de entrar. Acabaram assim com a violência lá. Agora, aqui, vira e mexe você vê os maluco de Oruro voltando a fazer merda e nada...

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    Cleber 621 comentários

    61º. @cleber.z em

    Eu sou a favor da torcida única!
    Pode não resolver 100% das confusões, mas se elas acontecerem todos estarão cientes que não era para um torcedor rival estar ali, ele foi porque quis!
    Se for entre torcedores do mesmo clube, então quer dizer que deveria existir um policial para cada torcedor? Acho que a polícia tem coisa mais importante pra fazer do que ficar de babá de marmanjo, sendo que nem é a função dela tomar conta de torcidas!
    Se não consegue conviver sem arranjar confusão fique em casa!

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    Gustavo 839 comentários

    60º. @gustavo.vieira.amadi em

    A violência jamais acabará por completo. Para com essa utopia. "Acabar de vez"? Não vai acabar nunca! Você pode reduzir drasticamente, acabar completamente não dá.
    Para com essa coisa esquerdista de ficar falando da polícia, que ela é o problema, ou chama o superman da próxima vez que precisar de socorro.
    Leis são convenções criadas (com o objetivo de) para proteger a sociedade daqueles que desejam lesar os outros, seja física, seja materialmente, seja da forma que for.
    Aposto que você é a favor da lei que convém, aquela que protege você, ou alguém que você gosta.
    Se um filho seu, ou qualquer pessoa de sua família, amigo, qualquer pessoa de quem você gosta... For assassinado por um membro de torcida, simplesmente porque estava uniformizado como torcedor de outro clube, você vai pedir para que a pessoa vá aprender a grafitar? Ou fazer origami? Plantar árvores?
    Cara, as leis e o estado deveriam servir para proteger cidadãos bons dos não bons. O problema são os demagogos, como você.

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    Sérgio 10565 comentários

    59º. @sergio.ohno em

    Belo exemplo da organizada colombiana que enxerga o problema social do país e tenta propor soluções atreladas à paixão pelo futebol. Imaginem o que seria ver um dia a Fiel chegar neste mesmo nível, aproveitando a paixão de uma Nação em prol daqueles que mais precisam. Vemos o clube timidamente promover ações sociais em prol de famílias carentes mas totalmente desassociada do apoio dos nossos mais de 30 milhões de torcedores. Temos esta imensa torcida que representa nossa sociedade, consequentemente com muitos problemas, inclusive até preconceito entre aqueles que se acham melhores torcedores do que outros, aqueles que rotulam todos os torcedores organizados como bandidos e, vive-versa, todos os que não são como modinhas. Esquecem que a verdade nunca está num dos lados mas sempre no centro, e que é a união que faz a força. Juntos, poderíamos fazer muito mais diferença, inclusive, na questão da violência no futebol.

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    Diogo 105 comentários

    58º. @diogo.renan em

    O lixo não sabe conviver em sociedade, não enfia na cabeça que em um jogo para haver vitória é preciso que alguém seja derrotado, não aceita opinião contrária, quer caçoar e não ser caçoado, enfim... Hipocrisia é mato..
    Aí os animais se estranham e a culpa é da polícia que não é tolerante com esses pseudo adultos? Nunca tomei paulada da policia não, porque sou civilizado, e não me meto no meio de marginal pra não ser tratado como tal.