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'Gaviões protestou contra tudo aquilo que você também deve bater de frente' por Lucas Faraldo

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Gaviões questiona Globo, federações e deputado Capez

Gaviões questiona Globo, federações e deputado Capez

Reprodução/Twitter

Você muito provavelmente viu algo sobre os protestos que a Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, vem fazendo nos últimos dias. Bem como à punição recebida pela torcida. Minha intenção neste texto não é explicar o porquê de as manifestações serem legítimas. Isso a própria torcida esclarece aqui. E um advogado corrobora aqui. Tão pouco questionar o exagero de um banimento por 60 dias por conta da utilização de sinalizadores de fumaça.

O que quero é apenas reunir, num único espaço, os principais acontecimentos do último mês. Abaixo, algumas das motivações por trás dos protestos contra cada um dos alvos da torcida.

MANIFESTAÇÕES

Semifinal da Copinha, 22/1, Arena Corinthians

Faixas estendidas com os dizeres "Base = balcão de negócios para empresários e dirigentes"; "Cadê o planejamento, cadê o balanço?" e "FPF = câncer do futebol"

Final da Copinha, 25/1, Pacaembu

Sinalizadores de fumaça ascendidos na arquibancada amarela, e jogo paralisado até que a fumaça se dissipasse. Menos de 48 depois depois, FPF anuncia banimento da Gaviões em estádios por 60 dias

Protesto de rua, 31/1, sede da FPF

Torcedores levam bandeiras, faixas, instrumentos e sinalizadores para protestar contra a FPF

Protesto de rua, 3/2, sede da FPF

Torcedores voltam a levar bandeiras, faixas, instrumentos e sinalizadores para protestar contra a FPF

Jogo contra o Capivariano, 11/2, Arena Corinthians

Faixas estendidas com os dizeres "Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal"; "Jogo às 22h também merece punição" e "Cadê as contas do estádio?". Repressão da Polícia Militar

Jogo contra o São Paulo, 14/2, Arena Corinthians

Faixas estendidas com os dizeres "CBF e FPF: a vergonha do futebol"; "Futebol refém da Rede Globo" e "Quem vai punir o ladrão de merenda?"

ALVOS

Agentes de jogadores e categorias de base do Corinthians

Não é de hoje que contratos obscuros e livre acesso de empresários permeiam as categorias de base do clube. Enquanto passam anos e anos e nada do centro de treinamento da base (anexo ao CT Joaquim Grava) ser entregue, dirigentes fecham acordos bizarros e fatiam e vendem a preço de banana promessas e mais promessas. Marquinhos saiu por cerca de R$ 7 milhões para a Roma e logo foi vendido pelos italianos ao PSG por mais de R$ 100 milhões; principal joia do Timão atualmente, Matheus Pereira tem apenas 5% de seus direitos econômicos ligados ao Corinthians; Vitinho, de apenas 16 anos, pouco depois de publicar fotos de excursões que fez no Manchester City, viu o prazo de seu contrato de formação expirar e o Alvinegro não lhe oferecer um vínculo profissional (agora, deve sair de graça e, com acordado costurado com o City, jogar no futebol inglês assim que completar a maioridade).

É errado alguém protestar contra isso?

Andrés Sanchez e as contas do futebol e da Arena

O Corinthians recebe uma das maiores cotas de televisão para seus jogos serem transmitidos, tem um dos patrocínios mais valiosos, tem o plano de sócios torcedores com mais cadastrados, tem a maior média de público em jogos como mandante, tem uma das maiores arrecadações com bilheteria, tem uma sala de troféus recheada com taças de todos os tipos conquistadas num recente espaço de tempo (e portanto com boa grana de premiação entrando nos cofres)... E ainda assim, está no vermelho. Ainda assim, encontra dificuldade para alcançar as projeções de lucro feitas às vésperas da inauguração da Arena. Ainda assim, adia o pagamento dos empréstimos que deve ao Governo Federal por conta da construção do estádio. Ainda assim, tem em mais de cinco anos atrasadas as negociações pelos naming rights do local decorado com mármore e banheiros luxuosos. Tudo isso com uma gestão chamada "Renovação e Transparência" à frente do clube há quase mais de oito anos.

É errado alguém protestar contra isso?

Federação Paulista de Futebol e Confederação Brasileira de Futebol

Envolvidas em escândalos de corrupção cada vez mais constantes e recheada de cartolas com fichas sujas, deixam de lado a função de apoiar o futebol estadual e nacional. Hoje, FPF e CBF nada mais são do que casas de sanguessugas que lucram sobre os clubes por meio de taxas e mais taxas exorbitantes. De janeiro a março de 2015, de acordo com levantamento feito pelo Lance!, a FPF havia arrecadado mais do que 18 dos 20 clubes que disputam o Campeonato Paulista (R$ 1.502.102,53). Enquanto isso, clubes tradicionais do interior paulista como XV de Jaú e União São João definham rumo à falência por falta de apoio. Não bastasse o prejuízo financeiro que as instituições causam nas agremiações, ainda aplicam punição sem cabimento atrás de punição sem cabimento por meio do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que tenta a todo custo roubar o espaço que outrora foi de torcidas e craques da bola e tornar-se protagonista de um futebol cada vez mais largado por aqueles que deveriam ser os principais interessados em alavancá-lo.

É errado alguém protestar contra isso?

Rede Globo

Ciente do lucro por trás das propagandas e da audiência por trás da paixão de torcedores por seus clubes, a Globo investe nos direitos de transmissão de jogos das principais equipes do país. O Corinthians, que proporciona à TV aberta uma das maiores taxas de Ibope, é por consequência um dos que abocanha a maior fatia desse bolo. E como quem paga mais, na lógica de mercado em que estamos inseridos, manda mais, há maior facilidade para, em conjunto com a CBF, arranjar horários e datas convenientes à emissora, mas nem sempre tão agradáveis aos torcedores. Ninguém gosta de sair correndo de um estádio minutos antes da meia-noite com medo de não conseguir voltar para casa, com medo de ser assaltado, com medo de perder a hora para acordar no dia seguinte. E a principal responsável pela fixação do horário das 22h em jogos de dia de semana é justamente a principal emissora do país. Em tempo, vale ressaltar que neste ano as partidas estão começando 21h45, o que não é grande avanço mas já ajuda muito aqueles que se vão às arquibancadas nas noites de quarta-feira.

É errado alguém protestar contra isso?

Fernando Capez

Deputado tucano e atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Capez, num passado não muito distante, quando era promotor, fez o possível e o impossível para extinguir torcidas organizadas. Dizia em entrevistas sem o menor receio de generalizar: uniformizadas não passam de facções, uniformizados não passam de bandidos e o banimento dessa gente seria a solução para acabar com a violência nos estádios. Nas últimas semanas, investigadores chegaram ao nome de Fernando Capez como um dos principais beneficiários de propinas em contratos superfaturados de merendas escolares (acusação negada pelo deputado). Um branco escolarizado e bem afortunado roubando também não é violência? Único órgão capaz de punir Capez caso seja de fato denunciado pela Justiça, a procuradoria-geral é assessorada por Valéria Capez, esposa do deputado. A sensação de impunidade também não é violência? O que a Gaviões, bem como outras torcidas de outros clubes, sempre argumentaram é: ingressos caros, polícia opressora e cartolas corruptos também não promovem violência?

É errado alguém protestar contra isso?

A Gaviões, bem como a grande maioria das torcidas organizadas, tem sim enraizada uma cultura cheia de problemas que precisam ser debatidos e, tomara um dia, desconstruídos. Trata-se de agremiações homofóbicas, machistas e que cultuam a violência, ainda que em primazia apenas entre os próprios uniformizados e, portanto, deixando de fora, em tese, os "não interessados em brigar".

Mas não é por isso que são todos bandidos. Capez que o diga. Ou não diga mais, sei lá.

Há coisas belas por trás da história de uma organizada. Por trás da Gaviões, por exemplo. Fundada em meio ao Regime Militar para combater as ditaduras que mandavam no Brasil e no Corinthians, se trata de uma massa popular que luta por coisas louváveis. Que se popularizou vendo Sócrates, Casagrande, Wladimir lutarem por ideais semelhantes ao seu.

Aqueles que vestiram as carapuças podem tentar, mas não conseguirão impedir os protestos. Negros e pobres, marginalizados na nossa sociedade, têm voz quando unidos numa arquibancada. Têm voz. Quer instrumento mais importante para uma torcida do que a voz? Talvez por isso torcida nenhuma aceitará ser calada.

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