Acabou o prazo, Carille
Opinião de Jorge Freitas
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Em minha última coluna, escrevi aqui que o Corinthians mantinha os 100% de aproveitamento e de sofrimento em mata-matas nesta temporada. No início do ano, também fiz questão de defender o trabalho e dizer que Carille precisava ter a confiança e a paciência do torcedor, que veria um time em evolução nos primeiros meses da temporada, razão do novo grupo e das novas ideias que o treinador havia pregado e defendido em seu retorno ao clube, e que classificações como contra o Racing deveria ser comemorada e vista como mérito, não como obrigação.
Passada a metade do quarto mês do ano e após ver mais uma partida terrível do Corinthians, sinto-me à vontade para levantar críticas ao trabalho de Fábio Carille. Sem convencer até aqui, Carille tem em mãos um elenco que pode jogar muito mais bola do que tem jogado. Embora faltem algumas peças importantes, como um verdadeiro armador de jogadas, já que Jadson começou essa temporada como se estivesse no final, Sornoza serve apenas para bola parada e Pedrinho não é uma opção para o treinador pelo meio, não enxergo desculpas suficientes para a bolinha que estamos jogando e para os sufocos que tomamos, mesmo com seguidas classificações.
Sim, está claro a todos que o Corinthians desta temporada tem muito mais sorte que competência técnica. Fomos piores que o Ferroviário, da terceira divisão nacional, tomamos susto contra o municipal time do Avenida e quase caímos fora para um limitadíssimo Ceará. Isso sem falar do Racing, que foi superior durante 180 minutos e só não se classificou por uma dessas coisas que o futebol não explica.
Hoje, após alcançarmos incríveis 400 minutos sem fazer um golzinho, encontramo-nos diante duma decisão contra um rival que não levanta uma taça importante há mais de dez anos e virá a nossa casa com muita fome de bola. Embora favoritos, não queremos que clube nenhum faça a festa em nosso estádio. Corremos o risco de perder uma final e, quatro dias depois, sermos eliminados na Copa do Brasil, já que nem em casa conseguimos ser tão superiores como já fomos em anos anteriores.
Ontem, embora com o time reserva, o Corinthians tinha em campo jogadores do nível de Ramiro, Vagner Love e Boselli, contratados para dar uma resposta afirmativa aos torcedores, mas que até aqui nada de bom fizeram (um desconto ao argentino, que mal pega na bola). Carille sabe que o clube está devendo e pede para que não busquemos fantasmas, mas é verdade que não dá para confiar num time que não toca a bola, não faz triangulações nem infiltrações, depende exageradamente de seus goleiros para conseguir resultados e não cria uma grande jogada de gol.
Nos próximos dois jogos, teremos que buscar o resultado, o que não tivemos que fazer até aqui em quase nenhum jogo de volta. Aliás, quando tivemos, fracassamos e só passamos pela Ferroviária graças a Cássio, nos pênaltis, que tem sido o grande jogador dessa temporada, retrato do futebol excessivamente defensivo que temos apresentado.
Imagine a crise se perdemos a final para o São Paulo e em seguida cairmos para a Chapecoense na Copa do Brasil? Parece trágico demais, mas quem pode cravar que não acontecerá, haja vista as falhas em nosso esquema tático e a ausência de um estilo eficiente de jogo?
Nosso meio de campo quase que inexiste, já que não há criações de jogadas. Ainda, para piorar, corremos o risco de não termos Junior Urso, machucado e com características exclusivas no elenco. Gustagol, um fenômeno do começo de temporada, não recebe uma boa bola para finalizar desde antes de se contundir, quando nos salvou de fiascos como contra o próprio Ferroviário.
Clayson, um dos poucos pontos positivos do treinador na temporada, recuperado e ainda melhor, não é capaz sozinho de fazer nada e me faz sentir até pena de suas grandes jogadas que morrem quando chegam nos pés de outro jogador sem repertório nenhum.
Ainda confio muito no trabalho de nosso treinador e na força de nosso elenco, mas é necessário se mexer. O problema é que a temporada já começou pra valer e não tivemos um grande jogo para nos orgulharmos e usarmos como exemplo e esperança.
O tempo já acabou para Carille, que prometeu um time melhor, mas está conseguindo jogar muito pior que 2017. O Brasileirão, principal competição da temporada, já está aí e todos nós esperávamos chegar ao menos com um time seguro e com boas jogadas de gol para brigar nas cabeças.
A esperança é a tônica da Fiel. Mas merecemos coisa melhor. Muito melhor.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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