Após denúncia, Juca Kfouri sugere volta ao Pacaembu e compara risco na Arena com tragédia em Mariana
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Por Meu Timão
O imbróglio entre Corinthians e Odebrecht, construtora do estádio do clube, está longe do fim. De acordo com o jornalista Juca Kfouri, a Arena em Itaquera, inaugurada em maio de 2014, sofre com uma série de problemas estruturais, entre eles um vazamento de mais de dez milhões de litros d'água sob o estacionamento.
“É uma coisa chata, grave e que precisava vir à tona da maneira como veio hoje. Já no ano passado, descobriu-se que o Corinthians estava pagando pelo estádio uma conta d'água muito maior que nos meses anteriores, o que indicava haver um vazamento, e este vazamento foi detectado apenas em junho deste ano. E aí, provavelmente, já corrigido – é o que se supõe”, relatou Kfouri em participação no programa Bate-Bola, da ESPN Brasil.
“Só que vazou tanto, o cálculo mais baixo é em torno de dez milhões de litros d'água, que não se sabe que efeitos sobre a terra que este vazamento teve. Como já houve, por causa de chuva, deslizamentos de terra que chegaram até a calçada da Radial Leste, teme-se, por razões técnicas, que deslize o estacionamento do Corinthians até a Radial”.
O incidente foi descoberto em junho, um ano depois de a Sabesp alertar a administração da Arena a respeito do consumo de água em excesso. Segundo a publicação, há receio de que o problema estrutural possa causar um deslizamento de terra e até soterrar parte da Radial Leste, principal via da região. Ainda segundo Juca, tal desastre lembraria a tragédia de Mariana-MG – em novembro de 2015, duas barragens da mineradora Samarco se romperam na cidade mineira. Ao menos 17 corpos foram resgatados da lama.
“É claro que, se isto acontecer, é possível imaginar, num horário de pico, o tamanho do problema que pode causar, quantas mortes pode causar. Daí, eu ter ouvido de um dos técnicos com quem falei, até uma declaração digamos, aparentemente alarmista, que o estádio pode se transformar em uma nova Mariana. Claro que ele não está se referindo ao choque ambiental do que houve em Mariana, comparando com o que pode haver no campo do Corinthians, mas em termos de mortes”.
“Porque se em Mariana morreram 17 ou 19, imagine o que poderia acontecer num deslizamento desta ordem na Radial Leste num momento de muito trânsito. Além do fato de que as tais lâminas que têm voado da fachada do estádio e caem no gramado e no setor Norte, e que até hoje, felizmente, não machucaram ninguém porque caíram em dias que não tinha jogo. Se caírem em dia de jogo, podem causar trazer outros desastres, porque são lâminas de louça, de um material chamado Teclan, tão cortantes que cortariam um corpo ao meio. Imagine essas consequências”, continuou.
A versão do jornalista é diferente da declaração de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e nome forte por trás da construção da Arena Corinthians. O dirigente garante que o transtorno foi resolvido em 2015. “O vazamento da Arena Corinthians acabou há um ano. Vazaram seis milhões de litros na época e agora já está tudo resolvido”, respondeu Sanchez em entrevista à Rádio Bandeirantes, negando os números divulgados por Kfouri.
FALHAS DA ODEBRECHT
Durante o programa, Juca ainda recordou outro incidente oriundo de obras inacabadas da empreiteira: a queda de parte do forro de gesso e madeira instalada no setor Oeste do estádio, a qual se desprendeu da laje de concreto. “No Blog e na Folha têm um filme, que até hoje não era conhecido, de quando caiu o forro do teto perto de um dos elevadores na área VIP do estádio. Ali tem duas toneladas de material de construção, que vieram abaixo. Por sorte não pegou ninguém, um rapaz acabava de passar logo antes de abrir o desmoronamento. Imagine isso num dia de jogo”, alerta o comentarista, que já pensa na possibilidade de o Corinthians voltar a mandar partidas no estádio do Pacaembu.
“Tudo isso, que é o mais lamentável, foi devidamente alertado pelas áreas técnicas à direção do Corinthians e à direção da Odebrecht, e nenhuma providência foi tomada. Tudo posto embaixo do tapete”, lamentou. “É claro, no que diz respeito a mando de jogo, eu imagino que a partir de agora se acautele. Eu me acautelaria, eu trataria de fazer jogos no Pacaembu até que as coisas estejam muito claras e seguras”, finalizou.
O desabamento a que Juca se refere ocupou uma área de cerca de 50 metros quadrados e não deixou feridos. À época, a Odebrecht informou que a nova estrutura seria reforçada para suportar o forro.
OUTRO LADO
No início da tarde, o presidente Roberto de Andrade se pronunciou a respeito do caso. “Estamos preocupados, porque isso gera riscos para as pessoas e prezamos pela segurança de todos. Mas quem precisa ver isso e testar são os engenheiros. Eles já foram acionados e precisam dar a garantia de que está tudo resolvido”, afirmou o cartola em evento na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF).
“Essa troca de e-mails não é de hoje. Todos os problemas foram sanados. Até então, é assim. Avisamos os problemas e a construtora vai lá e corrige. Esse problema novo a gente precisa esperar resolver. É prematuro falar de problema agora, de interdição de estádio. Vamos aguardar a parte de engenharia dar a solução o mais breve possível”, complementou.
Além de Andrade, a assessoria de imprensa da Arena Corinthians emitiu uma nota oficial na qual garante estar em contato com a Odebrecht para averiguar quaisquer riscos de deslizamento. “A Arena e o clube reforçam, ainda, que toda a construção do estádio está passando por uma auditoria externa, como é de conhecimento público”, informa um trecho do texto.
Leia a nota da Arena na íntegra
Desde as primeiras horas do dia, a Arena Corinthians e o Sport Club Corinthians Paulista estão em contato com a Odebrecht, responsável pela obra do estádio, para verificar as informações veiculadas em matéria publicada nesta terça-feira (01/11) na Folha de S. Paulo.
Uma equipe de manutenção trabalha diariamente e verifica minuciosamente as condições para que os torcedores estejam em completa segurança no estádio e, até o momento, não há informação vinda da Odebrecht para qualquer risco de deslizamento. A Arena e o clube reforçam, ainda, que toda a construção do estádio está passando por uma auditoria externa, como é de conhecimento público.
A Arena Corinthians e o Sport Club Corinthians Paulista esclarecem também que foram procurados pela Folha de S. Paulo apenas para responder sobre o funcionamento do estacionamento do setor Leste e não foram questionados previamente sobre os outros pontos abordados na matéria. Se fossem, teriam esclarecido as informações ao jornal; como farão, junto com a Odebrecht, nas próximas horas.