Ex-diretor financeiro do Corinthians protocola carta em resposta ao atual responsável pelo setor
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Por Rodrigo Vessoni
Após a diretoria do Corinthians se pronunciar de forma oficial sobre o tema, foi a vez do ex-diretor financeiro Raul Corrêa da Silva fazer o mesmo. Por meio de uma carta enviada ao presidente do Conselho Deliberativo, Guilherme Strenger, o ex-responsável pelo departamento rebateu as acusações de que as gestões dos presidentes Mário Gobbi e Roberto de Andrade teriam "maquiado" R$ 328 milhões nas contas do clube no balanço patrimonial de 2014. Raul era o responsável pelo departamento na ocasião.
Na carta, que tem diversos documentos anexados, o ex-diretor explica por que o balanço apresentado em 2015 demonstrou superavit de R$ 230,6 milhões, como apresentado na ocasião. Raul lembra ainda ao presidente do Conselho que todos os números foram atestados por grandes empresas de auditorias antes de serem lançados no balanço e apresentados aos conselheiros e à imprensa.
O jornal Folha de S. Paulo teve acesso a uma carta enviada nos últimos dias por Emerson Piovezan, atual diretor financeiro do Corinthians, ao Conselho Deliberativo na qual afirma que o documento que apresentou superavit de R$ 230,6 milhões alegado pela gestão de Mário Gobbi e apresentado e aprovado pela gestão de Roberto de Andrade era na realidade um deficit de R$ 97 milhões. Na tal carta, Piovezan utiliza o termo "maquiado" e justifica dizendo se tratar de uma forma coloquial, mas reafirma que a diferença de R$ 328 milhões "distorceu a análise realizada pelos leitores do balanço, notadamente pelo egrégio conselho".
VEJA ABAIXO A CARTA DE RAUL CORRÊA DA SILVA, EX-DIRETOR DE FINANÇAS, AO PRESIDENTE DO CONSELHO
São Paulo, 02 de março de 2.017.
Ao
Dr. Guilherme Strenger
Presidente do Conselho Deliberativo do Sport Club Corinthians Paulista (SCCP)
Prezado Senhor,
Tendo tomado conhecimento do conteúdo da correspondência encaminhada pelo atual Diretor de Finanças ao Conselho Deliberativo em 2.2.2017 (Anexo I), apresento, na qualidade de Diretor de Finanças na gestão em que elaboradas as demonstrações financeiras questionadas, os seguintes esclarecimentos:
1. O registro contábil das quotas de titularidade do SCCP no Arena Fundo de Investimento Imobiliários observou estritamente a “Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis” definida na Resolução nº 1.374/2011 do Conselho Federal de Contabilidade, e o Pronunciamento CPC 30 emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
2. A regularidade do registro foi atestada pelos pareceres da RSM Fontes Auditores Independentes e de Machado e Meyer Advogados (Anexos II e III), com base nos quais o CORI – Conselho de Orientação aprovou o critério de contabilização e as demonstrações financeiras auditadas (Anexo IV). Os pareceres confirmam que, de acordo com as normas contábeis aplicáveis, deve ser registrado como receita, ainda que sem o efetivo ingresso de recursos, o “aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos de patrimônio líquido e não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais” (Resolução CFC nº 1.374/2011, item 4.25.‘a’).
3. No curso de minha gestão, o SCCP foi auditado, ainda, pela KPMG, Grant Thornton e RSM (responsáveis pela auditoria de demonstrações financeiras), PwC e RSM (responsáveis pela auditoria de relatório de sustentabilidade) e a Arena Fundo de Investimento Imobiliário, auditado pela Grant Thornton, sem que nenhuma das renomadas empresas de auditoria tenha apresentado ressalvas a critérios de contabilização.
4. As notas explicativas às demonstrações financeiras contêm indicação expressa dos critérios utilizados para o registro contábil e, especialmente, de que o reconhecimento do valor das quotas da Arena como receita não resultava em um “superávit”. Consta, ao contrário, a informação de que “encerramos o ano com déficit operacional e aumento no endividamento” (Anexo V). A questão foi também objeto de amplo debate à época, em eventos públicos, inclusive divulgados pela imprensa (Anexo VI). Tais fatos afastam completamente as levianas acusações de “maquiagem do balanço” ou de que “a prática contábil ... distorceu a análise realizada pelos leitores do balanço”. Dada a forma transparente e profissional como o tema foi tratado, nem eventual falta de preparo técnico do atual Diretor de Finanças justifica as afirmações.
5. Em razão da extrema gravidade das falsas acusações e da sua esperada repercussão na imprensa, solicito que (i) estes esclarecimentos sejam imediatamente submetidos aos demais conselheiros e a todos os associados, por meio da sua divulgação e dos documentos anexos, no website do SCCP, e (ii) a questão seja encaminhada, com urgência, ao Comitê de Ética, independentemente das demais providências cabíveis.
6. Por fim, registro que a atuação diligente da antiga gestão no registro contábil da participação na Arena foi apenas mais uma das diversas medidas implementadas para conferir maior transparência e eficiência à administração do SCCP – inclusive acabando com a história de “Marginal sem número” –, tais como, por exemplo, a disponibilização periódica em seu website dos balancetes contábeis, a contratação de auditorias independentes de reputação internacional, a elaboração de relatórios de sustentabilidade anuais, a criação do canal de transparência e o maior rigor na preparação dos orçamentos anuais. Como resultado desses esforços, o SCCP (i) recebeu o primeiro lugar nas duas edições do prêmio Transparência no Futebol promovido pela PLURI Consultoria; (ii) teve seu relatório de sustentabilidade indicado para concorrer ao Prêmio Relatório Anual promovido pela Associação Brasileira das Companhias Abertas; e (iii) foi convidado a apresentar seus relatórios anuais na consagrada Global Reporting Initiative em Londres.
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RAUL CORRÊA DA SILVA
Sócio nº 42.138 desde 1.959