O quebra-cabeça da Arena Corinthians está completo
Opinião de Lucas Faraldo
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O Corinthians me orgulha muito em 2019. Não pelo futebol, claro. E explico abaixo!
Há cerca de duas semanas, tornou-se pública a história da artesã Neilde Araújo Souza, que deve ir à Justiça contra o Colégio Adventista do Campo Limpo pela recusa da escola em matricular seu filho. O pequeno Luiz Gustavo, de cinco anos, tem diagnóstico de autismo.
O colégio paulistano em questão alegou não haver mais vagas disponíveis para alunos com deficiência. Ainda que o Transtorno do Espectro Autista, de acordo com a literatura científica, não seja classificado como deficiência, recebe tal tratamento para fins legais desde a promulgação da Lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Como destacado pelo portal Universa na reportagem que deu voz à mãe de Luiz Gustavo neste mês, o site do MEC informa que "qualquer escola pública ou particular que negar matrícula a um aluno com deficiência comete crime punível com reclusão de um a quatro anos", citando assim trecho da Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989.
Ou seja, a escola, se processada pelos pais de Luiz Gustavo, pode responder criminalmente. Lei à parte, vejo a situação também como um descaso moral do colégio (que se diz religioso).
Dito isso, vamos lá. Você leitor do Meu Timão a essa altura certamente já deve estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com o Corinthians, céus? Pois explico rapidinho!
Alguns podem achar pouco, mas o que a Arena Corinthians fez em 2019 é um passo gigante na ainda mal informada sociedade em que vivemos: o estádio do Timão se tornou o primeiro inclusivo a autistas no futebol brasileiro. E no fundo a própria Fiel mostra a importância disso.
Seja na reportagem em que o Meu Timão contou a história de Leandrinho, que está dentro do TEA (o Transtorno do Espectro Autista) e conheceu a nova sala da Arena adequada a torcedores com autismo, seja numa outra reportagem aqui do site em que promovemos, junto com o Corinthians, o encontro do torcedor Caco, também autista, com o ídolo Cássio: a audiência de ambas foi bastante alta em comparação às notícias do dia a dia alvinegro.
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Em outras palavras: há interesse das pessoas pela causa, pela inclusão. Os mais de cem comentários nas duas matérias mostram dezenas de internautas aqui do site se identificando ou por serem autistas ou por conhecerem alguém próximo que é. E não é de se estranhar.
Segundo estimativa do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC, em inglês), que aponta um caso de autismo a cada 110 pessoas no mundo, há aproximadamente 300 mil autistas (de diferentes graus) entre os mais de 30 milhões de torcedores do Corinthians. Ampliando a conta para o Brasil todo, são cerca de 2 milhões de pessoas dentro do TEA.
Muita gente está no espectro e nem sabe. Idem para filhos e/ou pais. O autismo, em seus diferentes graus, tem em comum quase sempre a hipersensibilidade sensorial de um ou mais sentidos (audição, visão, tato, paladar e olfato). Não é um diagnóstico fácil justamente porque tem como principal sintoma a dificuldade na interação social, algo relativamente comum em pessoas que não são necessariamente autistas. E quando o diagnóstico é obtido, novas dificuldades, como a relatada pela mãe de Luiz Gustavo, surgem para o autista e sua família.
É nesse sentido que muito me orgulha o Corinthians de 2019. Obviamente não pelo futebol da equipe. Falo da inauguração da tal sala na Arena, do entendimento de que essa é uma causa importantíssima para ser abraçada, da possibilidade de outros clubes se inspirarem e fazerem igual – o Bahia já tem conversas em andamento para, inspirado no estádio do Timão, também transformar a Fonte Nova, em Salvador, inclusiva a autistas.
Para concluir, quero contar uma curiosidade: a peça de quebra cabeça é o principal símbolo do autismo, representando a complexidade da condição e seus diferentes espectros que se encaixam formando o TEA. A ideia é simbolizar que pessoas autistas são difíceis de compreender (como um quebra-cabeça) e que a "cura" para o autismo é a peça que falta.
"Cura" entre aspas porque autismo não é deficiência, não é doença, não é curável. O autismo é uma condição que por muitas vezes permite que a pessoa dentro do TEA desenvolva um conjunto de altas habilidades que a tornem expert em alguma atividade. Foram famosos gênios autistas o compositor Ludwig van Beethoven, o engenheiro e inventor Nikola Tesla, o cineasta Stanley Kubrick, o fundador da Microsoft Bill Gates...
A peça que falta, no fim das contas, não é bem a cura, portanto. Mas sim a inclusão.
Pois, ao menos no quebra-cabeça da Arena Corinthians, não falta mais peça alguma.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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