Técnico da seleção uruguaia, reforços e um Corinthians sem planejamento
Análise de Lucas Faraldo
94 mil visualizações 196 comentários Comunicar erro
"Foi uma estreia absoluta. Ele joga na sub-20 do Uruguai, é capitão e mostrou, como sempre passa com os talentos, que parece ter mais idade do que realmente tem, porque mostra um nível de experiência que não condiz com o tempo de desenvolvimento do futebol. Essas coisas são importantes porque agregam ao potencial da equipe e às opções de novos jogadores."
A fala acima foi dita pelo treinador (e ex-zagueiro) da seleção uruguaia Óscar Tabárez, sobre o também zagueiro Bruno Méndez, minutos depois de promover a estreia do garoto com a camisa celeste, em 2018, num amistoso contra o Brasil, em Londres.
Em 2018, Tabárez fez Bruno Méndez estrear contra o Brasil, em Londres, num amistoso de muitos desfalques para o Uruguai. Depois do jogo, se disse encantado com a atuação e a personalidade do zagueiro. Parecia ver nele uma aposta de longo prazo. https://t.co/j0KgK8BbE2
— Alexandre Lozetti (@Ale_Lozetti) October 2, 2020
Passados quase dois anos, o ainda talentoso e hoje corinthiano Bruno Méndez não apareceu hoje entre os convocados de Tabárez para as primeiras rodadas das Eliminatórias da Copa de 2022. Não poderia ser diferente: a carreira do zagueiro estagnou.
Em suas duas primeiras temporadas desde que chegou ao CT Joaquim Grava, Bruno Méndez soma oito jogos oficiais como titular. Ele havia disputado 23 dessas partidas no Montevideo Wanderers somente em 2018, ano em que encheu os olhos de Tabárez.
Últimas três temporadas de Bruno Méndez (ex-capitão da seleção uruguaia sub-20):
- 2018: 23 jogos como titular (no Montevideo Wanderers)
- 2019: 5 jogos como titular (no Corinthians)
- 2020: 3 jogos como titular (no Corinthians)
Essa história (incluindo a declaração de dois anos atrás de Tabárez) simboliza um problema que caminha ao lado da perda de protagonismo do Corinthians a nível nacional: o clube outro dia heptacampeão brasileiro é agora uma máquina de triturar seus próprios jogadores.
Lembram quando o técnico da seleção uruguaia disse que as qualidades de um talentoso jogador como Méndez "são importantes porque agregam ao potencial da equipe"? Foi assim no título brasileiro de 2017 com jogadores de nível de seleção (de base ou profissional) como Cássio, Fagner, Balbuena, Guilherme Arana, Maycon, Romero, Jô...
Passado o hepta, porém, o Corinthians definhou. Em três anos ainda incompletos, já ficaram para trás Fábio Carille, Osmar Loss, Jair Ventura, Fábio Carille de novo, Dyego Coelho, Tiago Nunes e agora Dyego Coelho de novo. O presidente Andrés Sanchez busca agora um nome para dar início ao oitavo trabalho diferente de um técnico na atual gestão (!).
Em meio a muita contratação ruim e inexplicável no pacotão de 37 reforços da atual "era Andrés", há muita gente minimamente boa que não conseguiu engrenar. Juntam-se a Bruno Méndez os também reforços Mateus Vital, Douglas (o volante), Ángelo Araos, Sérgio Diaz, Sornoza, Boselli, Luan, Cantillo, Éderson, Yony González, Jô e agora Otero e Cazares.
E não sou eu que defino esses como "bons" nomes. Todos os citados têm passagens pelas seleções de seus países (na base e/ou no profissional). E nenhum deles realmente vingou em terras alvinegras até aqui. Parte deles já até se foi.
O Corinthians hoje desvaloriza seus próprios ativos. Bruno Méndez custou R$ 18,5 milhões por 70% dos direitos econômicos; Araos, R$ 24 milhões por 100% (confiram o documento do próprio clube abaixo). O próprio Luan, contratado mais recentemente e cujo valor ainda não foi documentado publicamente pelo clube, custou mais de R$ 20 milhões por 50% dos direitos.
"(...) são importantes porque agregam ao potencial da equipe"...
Na teoria, a fala de Tabárez faz todo sentido e pode ser aplicada não só a Bruno Méndez mas a todos os "selecionáveis" do Corinthians – inclusive nomes como Cássio e Fagner, presentes na última Copa do Mundo. Na prática, entretanto, todos vêm jogando muito mal, desde os recém-contratados aos ídolos de longa data.
Na prática, se não há planejamento, não há equipe. E aí não há o que agregar nem a que agregar.
Avalie esta coluna
Veja mais posts do Lucas Faraldo
- Pra além da bomba, Rojas dá recado ao Corinthians
- Os dois diferentes perfis de reforços que Corinthians tenta contratar para 2024
- Corinthians encaminha três boas contratações. Mas torcedor se preocupa com razão
- Um motivo pra acreditar nos três 'bagres fake' do Corinthians para 2024
- Corinthians enfim acerta na busca por reforços com Augusto Melo
- Por que Augusto se revoltou com anúncio de Duilio do novo patrocínio do Corinthians