Não se muda doze anos em um mês
Análise de Mateus Pinheiro
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O Corinthians viveu o momento de maiores conquistas de títulos desde que chegou Mano Menezes, em 2008. Foram treze taças levantadas em 12 anos.
O corintiano se acostumou a comemorar anualmente. Tudo isso baseado em um sistema de jogo que pensava primeiro em se defender, depois em atacar - salvo, claro, exceções pontuais. A filosofia foi essa.
Pensamento de jogo esse que foi importantíssimo, mas de 2017 para cá, começou a irritar a torcida. No Brasil, nada se cria, tudo se copia. Então a partir do momento que a Fiel viu que outras equipes estavam ganhando mais priorizando o ataque, todo o apoio ao “ferrolho” caiu por terra e a massa ansiava por um time que “jogasse para frente”.
Dessa maneira, num ato corajoso, Tiago Nunes resolveu assumir o Corinthians. O treinador que levou a Copa Sul-Americana e Copa do Brasil nos últimos anos, comandando um Athletico ofensivo e organizado, embarcou no maior desafio da carreira.
Agora, esperar que o profissional consiga impor toda sua filosofia de jogo, levando em conta os desfalques, o elenco limitado, os vícios que os jogadores que aqui estavam carregam de outros treinadores em exatos TRINTA dias de trabalho é exigir o impossível.
Um calendário como o brasileiro é pífio ao ponto de exigir resultado de um grupo de atletas e comissão técnica em um mês. Não é desmerecer o adversário, mas sim exaltar o fato de que o time não está nem próximo de pronto numa data tão precoce.
Jogou o semestre em um jogo e perdeu. Acontece. Não deveria ter que acontecer, mas a união inexistente dos clubes e uma federação que pouco zela pelo bem-estar de seus maiores produtos – os atletas – fazem com que isso não seja novidade e o pior: seja considerado normal.
Passado o que passou, o medo é que a colossal máquina de triturar treinadores que é o futebol brasileiro acabe por minar um trabalho, acima de tudo, promissor. Afinal, como já disse aqui nessa coluna, o torcedor torce o nariz e reclama como nosso esporte está tão distante do europeu, mas é o primeiro a pedir a cabeça do treinador quando o resultado esperado não vem.
Longe de comparar capacidade ou carreira, mas Jürgen Klopp chega ao Liverpool, o time inglês mais pressionado há anos, afinal, não conseguiu vencer ainda uma Premier League e tinha como último título grande a Champions League de 2005, e falha. Falha em 2015, falha em 2016, em 2017, 2018, até que finalmente em 2019 consegue a glória máxima de um treinador, a Champions League. Criou um monstro que não sabe o que é perder e caminha para vencer um campeonato nacional sem perder sequer um jogo. Tudo poderia ter ido por água a baixo se seguisse a cartilha do futebol brasileiro e tivesse caído em 2016 ou 17.
Os erros da arbitragem, pouca experiência e afobação do Camisa 10, desfavorecimentos sistemáticos de Pitana e Conmebol já foram levantados aqui mesmo no Meu Timão por outros colunistas. Aqui faço o apelo e desabafo por um futebol brasileiro mais coeso e, quem sabe um dia, mais justo: deixem Tiago Nunes trabalhar. Lembrem de Jürgen Klopp.
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