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Vai, Korinthos! (Uma versão menos manjada da origem do nome Corinthians)
Memória Fiel

Nostalgia alvinegra que vai além dos jogos, gols e súmulas. Aqui reviramos os arquivos para reencontrar as várias pequenas histórias e detalhes que formam a gigantesca história do Corinthians.

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Vai, Korinthos! (Uma versão menos manjada da origem do nome Corinthians)

Coluna do Juliano Barreto

Opinião de Memória Fiel

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Vai, Korinthos! (Uma versão menos manjada da origem do nome Corinthians)

Você conhece a origem do nome do Corinthians?

Foto: Reprodução

Pensamos no Corinthians o dia todo. Temos Corinthians tatuado na pele. Quando temos filhos, vestimos eles de Corinthians o mais rápido possível. Na arquibancada gritamos apenas: Corinthians! Corinthians! Corinthians!

Mas de onde vem esse nome mesmo?

Senta que lá vem a História, com agá maiúsculo mesmo.

Primeiro, a resposta curta e que todo mundo sabe: o nome vem dos ingleses que em 1882 criaram o Corinthian Football Club, em Londres. O time era para ser chamado "Wednesday Club" mas um dos fundadores, o goleiro Harry Albemarle Swepstone, sugeriu o nome com inspiração helênica. Não encontrei nenhuma justificativa oficial para a escolha, mas existem duas explicações mais prováveis.

A primeira é a inspiração bíblica, possivelmente provocada pelos trechos das cartas de Paulo aos Coríntios (Coríntios 9:24-27):

“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível."

A segunda explicação está na reputação de Korinthos, uma das mais importantes cidades-estado da Grécia Antiga - que viveu seu auge séculos antes de Cristo, e fez seu nome ser conhecido como potência no comércio, nos esportes e na farra. Nessa interpretação, ser coríntio, portanto, seria quase que o oposto de ser um espartano. Sim, a inspiração do nome do Timão pode ter vindo dos playboys, não os maloqueiros da antiguidade.

Devido a sua localização estratégica, que ligava dois importantes portos por meio de uma estrada, Korinthos se tornou essencial para a vida comercial das vizinhas Atenas e Esparta --e consequentemente de toda a Grécia.

A posição privilegiada facilitou o sucesso da realização dos Jogos Ístmicos. Istmo, segundo a Wikipedia, é uma porção de terra estreita cercada por água em dois lados e que conecta duas grandes extensões de terra.

Templo de Apolo, em Corinto

Templo de Apolo, em Corinto

Wikimedia Commons

Os eventos eram promovidos um ano antes e um ano depois das antigas Olimpíadas e eram realizados em honra a Poseidon, Deus dos Mares. A importância dos Jogos de Korinthos era tamanha que, durante sua execução, era declarada trégua a qualquer guerra que estivesse ocorrendo na região. Mesmo os atenienses, que frequentemente entravam em conflito com os coríntios, eram recebidos sem problema para competir.

Ao longo dos anos, eram disputadas corrida de bigas, luta livre (wrestling), pugilato (antecedente do boxe) e pancrácio, uma espécie de vale tudo em que as únicas limitações eram a proibição de enfiar os dedos nos olhos, atacar a região genital, arranhar ou morder os adversários. Mas não era só selvageria. Havia também concursos de música e poesia --onde mulheres podiam competir, algo raro na época.

Vencedores recebiam coroas de folhas, eram homenageados com estátuas, odes e, em certo casos, com prêmios em dinheiro equivalentes a “100 dias de trabalho”. Há também relatos de bacanais e festas regadas a vinho e música.

Obra reproduz luta de pancrácio, o MMA da antiguidade

Obra reproduz luta de pancrácio, o MMA da antiguidade

Wikemidia Commons

Ficaria longo demais listar aqui todas as vezes que a cidade-estado de Korinthos invadiu, foi invadida, destruiu e foi destruída pelos vizinhos de Esparta e Atenas, além de ser controlada, novamente invadida e destruída uma vez mais por macedônios e romanos, só para se reerguer de novo “sob nova direção”.

Nem todas as mudanças fizeram a cidade perder a vocação de centro comercial e esportivo e daí vem o elo entre a bíblia e o esporte que mais tarde inspiraria ingleses e paulistas.

Já no período posterior a Cristo, aproveitando-se do grande fluxo na região, o apóstolo Paulo fundou uma igreja cristã na área e, mais tarde, escreveu quatro epístolas (espécies de cartas abertas com recomendações) aos primeiros cristãos de Corinto.

Nessas cartas, além do trecho acima, que remete ao esportes, também estão palavras que inspiraram o Legião Urbana:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria.”

Claro que não precisa lembrar de nada disso na hora de gritar “Vai Corinthians!”, mas que isso dá uma bela conversa de boteco, isso dá!

PS: as traduções dos salmos variam bastante.

Veja mais em: História do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Juliano Barreto

Por Juliano Barreto

Jornalista, biógrafo, maloqueiro e sofredor. Desde 1993 recorta jornais, revistas e guarda tudo relacionado ao Coringão. Neste blog, vamos tirar a poeira desses arquivos e matar as saudades.

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