Viva o zagueiro Henrique!
Opinião de Memória Fiel
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Como finalmente o Corinthians contratou o zagueiro Henrique, ex-Fluminense, faço esse post para desejar boa sorte ao cara e também fazer uma pequena homenagem ao zagueiro Henrique que jogou entre 1992 e 1997 no Coringão. Apesar de não estar na galeria dos maiores craques da história, ele sempre merece ser lembrado e elogiado.
Henrique Arlindo Etges (Venâncio Aires - RS), chegou ao Corinthians vindo do União São João de Araras, time sensação do futebol brasileiro naquela época, que revelou também o lateral-esquerdo Roberto Carlos. O zagueiro com cara de alemão, porém, já não era uma jovem promessa. Muito pelo contrário.
O defensor tinha 26 anos e acumulava passagens positivas, mas não brilhantes, pelo Grêmio, onde foi revelado, e pela Portuguesa, onde foi parar como moeda de troca. A carreira do garoto de 19 anos, que vestindo a camisa da Seleção Brasileira fez o gol do título no Mundial Sub-20, parecia caminhar para ser mais exemplo de craque da base que nunca se firmam no profissional.
Essa história começaria a mudar quando o lendário Basílio, na época técnico do Corinthians, pediu a contratação de Henrique ao não menos lendário Vicente Matheus, que então atuava como vice-presidente. Matheus não gostou dos 250 mil dólares pedidos inicialmente do União, mas conseguiu um negócio milagroso: trocou o passe de Henrique pelos passes do volante Jairo, do zagueiro Guinei e do atacante Marcos Roberto.
A chegada de Henrique foi discreta, nada de sirene no Parque São Jorge ou festa da torcida, e ninguém desconfiaria que após sua estreia, em 12 de julho de 1992, contra o Bragantino em Bragança Paulista, o zagueiro atuaria mais 292 vezes com o escudo do Corinthians em seu peito. A contratação caiu como uma luva, e rendeu a seguinte manchete da Folha de S.Paulo:
Infelizmente, a dupla Henrique e Marcelo não durou muito e a diretoria demorou para acertar novamente. Virou rotina nos começos de temporada ver a diretoria contratar novos zagueiros para solucionar os problemas de defesa. Dava errado. Trocavam de técnico, e o cara novo mandava o Henrique para o banco. Antes do final do primeiro semestre, os novos contratados já tinham provado que eram horríveis, os novos técnicos já tinham sido demitidos e lá estava o Henricão de novo, titular, humilde, jogando com raça e simplicidade.
Nessa ciranda, passaram jogadores de baixíssimo nível técnico, como Gralak, Embu, Pinga, Alexandre Lopes, Sangaletti… A lista é longa, mas quem é mais velho sabe o quanto era difícil para o Ronaldo e para o Henricão segurar as pontas junto desses bagres. Mas eles seguraram, e depois de heroicos vice-campeonatos em 1993 e em 1994, vieram os títulos do Paulista e da Copa do Brasil de 1995, e mais tarde do Paulistão 97.
As conquistas internacionais dos últimos anos podem até fazer esses títulos parecerem menores, mas vale lembrar que em boa parte da década de 1990, o Corinthians jogava na base da raça para superar o poderio econômico do Palmeiras-Parmalat e da estrutura (na época) inovadora do São Paulo.
O Henricão, assim como o Ronaldo e o Viola, precisam ser sempre exaltados por conta desses títulos. Eles roeram o osso e conseguiram sair campeões com todos os méritos. O Henricão, inclusive, faria um gol importante no quadrangular do Paulistão de 1997. Aproveitando cruzamento de Fábio Augusto, o zagueiro escorou de cabeça na área e ajudou na vitória de 2x0 sobre os rivais.
Se você ver o vídeo desse jogo, vai reparar que Henrique veste a camisa 15 em vez da tradicional camisa 4. Para variar, tentaram trazer outro zagueiro para o lugar dele (Sangaletti!) e no final das contas quem resolveu foi mesmo cara que chegou quietinho em 1992 e nunca teve vergonha de dar carrinho ou chutão quando precisasse.
Se o zagueiro Henrique que está começando esse ano tiver 10% da humildade e da raça do Henricão Queixada, pode ter certeza que vamos longe no ano!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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