Ignorar a vontade do sócio e do torcedor do Corinthians sem fundamento concreto não faz sentido

Opinião de Roberto Piccelli
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Augusto Melo tem forte apoio da torcida
Foto: Mayara Munhoz / Meu Timão
Não conheço os detalhes da investigação que pode servir de fundamento para o Conselho afastar Augusto Melo do comando do Corinthians. Você, corinthiano, você, sócio, conhece esses detalhes? Afinal, nem mesmo a polícia parece ter até o momento chegado a uma conclusão definitiva no inquérito instaurado para examinar a denúncia.
Por ora, goste-se ou não de Melo, ele foi eleito pelos sócios por uma maioria acachapante dos associados, com aproximadamente o dobro de votos do seu rival, André Oliveira, que representava a continuidade da gestão de Duilio Monteiro Alves. O placar foi de 66,2% contra 33,8%.
Poucos esperavam um início de gestão arrasador. O sentimento geral entre os sócios foi traduzido por um conselheiro respeitado na política do clube, então apoiador do candidato Melo, que encontrei no ginásio do Parque São Jorge no dia na eleição. Em meio às minhas muitas dúvidas, ele cravou: “Ele vai fazer umas c… no início, mas vai pegar o jeito. É melhor do que continuar o pessoal que está hoje.”
É difícil discordar que o presidente teve exatamente o início de ano profetizado pelo conselheiro, que recentemente se tornou opositor. Com o tempo, porém, acho que a profecia se mostrou ainda mais verdadeira. O Corinthians está de fato melhor. Temos hoje uma perspectiva como há tempos não se via para a temporada seguinte: receitas importantes com patrocínio e cotas de televisão, uma gestão mais profissionalizada e a perspectiva - por méritos da Gaviões da Fiel - de uma operação de custeio coletivo que pode ajudar com a dívida do estádio. Dentro de campo, temos um futebol convincente e um elenco renovado e conectado com a torcida, com chances de classificação à Libertadores no ano que vem.
Se o corinthiano parecia ter paz e se permitia sonhar com um 2025 melhor, a votação do Conselho vem como um balde de água fria. Caso se decida afastar o presidente, ele será destituído provisoriamente. Depois de dois meses, os sócios deverão deliberar definitivamente sobre o pedido de afastamento. O expressivo resultado entre os sócios na eleição geral e as reações da torcida de uma forma geral fazem duvidar de qualquer chance de que o impeachment prospere nessa votação de todos os sócios. Tem-se, então, um prognóstico inacreditável: o Conselho afastaria Augusto exatamente no período do planejamento do próximo ano, apenas para que ele voltasse no início de fevereiro, com o início da temporada já iniciado.
Esse cenário obviamente trágico e os rumores de chantagem que surgiram aqui e acolá têm provocado a ira da torcida. As manifestações das organizadas e os comentários em portais segmentados não me deixam mentir. Aliás, atribuir a indignação dos torcedores a uma “milícia digital” só mostra o quão dissociado do pensamento do corinthiano comum está a cabeça das principais figuras do nosso conselho.
Há quem diga haver provas contundentes contra Augusto. Não descarto. Enquanto, porém, essas evidências não são trazidas à tona, a situação não é diferente das inúmeras suspeitas que sempre pairaram sobre os seus antecessores no cargo - suspeitas que nunca levaram a nenhuma ação concreta do Conselho. Caso realmente haja provas, os grupos que apoiam a remoção do presidente, no mínimo, têm falhado gravemente na transparência com a torcida e com o quadro associativo que elegeu Augusto. Essa arrogância das lideranças do movimento não colabora para convencer o torcedor, seja ou não de torcida organizada, seja ou não sócio, de que o impeachment está sendo movido em prol do interesse da instituição.
Até aqui as razões para o afastamento até aqui são obscuras, e o momento da votação do Conselho parece ter sido escolhido a dedo para prejudicar o clube.
PS: Essa é minha opinião pessoal, como sócio e como torcedor. Não reflete a opinião do Meu Timão. Relembro também que, quando foi discutido o impeachment de Roberto de Andrade por razões burocráticas, eu me posicionei contra a iniciativa, nesse mesmo espaço, e fui muito criticado.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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