Não é falta de sorte
Opinião de Walter Falceta
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1) Tenho na memória o jogo de maio de 2000, no Pacaembu, contra o Rosário Central, da Argentina. Ganhamos nos pênaltis. Na Libertadores, foi a última vez que conseguimos reverter um resultado adverso fora de casa.
2) Depois disso, nos jogos de volta, perdemos a vaga para o River Plate, em 2003 e 2006. Em 2010, a desclassificação se deu diante do Flamengo, no Pacaembu. Em 2013, o algoz foi o Boca Juniors. Dois anos depois, o Guarani do Paraguai. No embate contra o Nacional do Uruguai, em 2016, empatamos fora de casa. No jogo de Itaquera, para variar, não logramos avançar à fase seguinte.
3) São quatro eliminações seguidas na fase de oitavas de final de competições continentais: Libertadores em 2015, 2016 e 2018 (todas com jogo de volta em Itaquera); Sul-Americana em 2017 (no Cilindro de Avellaneda).
4) Nestas disputas de mata-mata, o Corinthians teve nada menos que sete jogadores expulsos. O último deles foi Danilo Avelar, na noite desta quarta-feira.
5) Parte da torcida parece conformada e argumenta que, desta vez, o time jogou com garra. As críticas mais ácidas são dirigidas ao elemento do apito, que claramente beneficiou os chilenos. É a tradição em competições organizadas pela infame Conmebol.
6) Esses fracassos, no entanto, não devem ser debitados na conta da sorte. A Libertadores exige preparação técnica, controle emocional e expertise na gestão de bastidores. Desde 2012, os cartolas corinthianos falham grosseiramente na realização destas tarefas. Soma-se à ingenuidade uma dose gigantesca de incompetência.
7) O Corinthians deve entrar em campo para ganhar tudo, mesmo em situações adversas. É lamentável que o presidente do clube trate a competição continental com desprezo, insistindo na tese de que a prioridade é a Copa do Brasil. Essa atitude arrogante sabota o astral da equipe, oferece ânimo adicional aos adversários e desrespeita flagrantemente o torcedor.
8) Na verdade, todos os dias, a gestão de Andrés Sanchez ofende gravemente os apaixonados pelo clube de Parque São Jorge. O mandatário e seu grupo transformaram o Corinthians em uma lucrativa vitrine de atletas, oferecida gentilmente aos agentes-tubarões. A feira funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. As multas rescisórias são ridículas. Esse é o padrão administrativo do cartola que conquistou seu mandato em uma eleição manchada por graves irregularidades.
9) Se tivesse mantido o competente Balbuena, por exemplo, é certo que o Corinthians teria realizado campanhas melhores na Libertadores e no Campeonato Brasileiro. O zagueiro paraguaio, no entanto, foi repassado ao West Ham, o mesmo suspeito clube inglês que, em épocas lavadas e passadas, hospedou Tevez e Mascherano. As relações dos tempos sombrios de Kia Joorabchian estão mantidas e parecem ainda lucrativas.
10) Portanto, não é falta de sorte. O Corinthians cai mais uma vez porque seus dirigentes não se empenham em transformar a experiência do fracasso em aprendizado de aprimoramento. Mantém-se o padrão da gestão de aluguel, de viés coronelista, que produz fortunas para os empresários agiotas e lágrimas para o torcedor que sustenta a máquina do esporte.
11) Resta de mais este malogro a lembrança de uma torcida vibrante que empurrou o time desde o início. Resta na memória o choro soluçante de um menino consolado pelo pai no Setor Leste. Resta o respeito pela grande e aguerrida torcida do Colo Colo, que soube apoiar sua equipe e abrilhantar o espetáculo. As vozes e cores dos visitantes fazem bem ao futebol.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.