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Ele vivenciou o título de 77 como poucos. E tem a resposta para o longo sofrimento do Corinthians

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Professor Teixeira exibe faixa de campeão paulista de 1977

Professor Teixeira exibe faixa de campeão paulista de 1977

Vinícius Souza/Meu Timão

Se há alguém que tenha conhecido de perto Osvaldo Brandão, técnico responsável por levar o Corinthians ao histórico título do Campeonato Paulista de 1977, há exatos 40 anos, este é José de Souza Teixeira, mais conhecido como professor Teixeira.

A relação entre Corinthians e ele teve início em 1965, quando o especialista em educação física passou a integrar a comissão técnica de Brandão como preparador. Teixeira, porém, não foi um mero coadjuvante. Estudioso e um dos poucos profissionais graduados no meio do futebol, propôs aos caciques de sua época aquilo que imaginava ser a solução para o fim do jejum que perseguia o torcedor corinthiano – que, décadas depois, acabaria em livro. Mas falaremos disso mais para frente.

Teixeira, aos 82 anos de idade, recebeu a reportagem do Meu Timão em seu apartamento na Vila Clementino, em São Paulo. Em um longo bate-papo, passeou pela década de 70 e contou, com detalhes, as principais curiosidades que envolveram a lendária conquista de 77. Mais que isso, recordou os episódios em que bateu de frente com cartolas para que o Corinthians evoluísse em termos de estrutura.

Além de preparador físico e braço direito de Brandão, o professor Teixeira foi técnico (108 partidas), supervisor e superintendente de futebol do clube do Parque São Jorge, como ele próprio faz questão de ressaltar.

Timão de Basílio pôs fim ao maior sofrimento da Fiel num mesmo 13 de outubro

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Arquivo pessoal

“Eu trabalhei quatro vezes no Corinthians. Só na primeira que nós não ganhamos títulos, que foi de 1965 a 1971. Mas em 77 eu estava lá. No ano de 79, praticamente, eu fiz todo o campeonato. Em 82, eu fui como supervisor, foi campeão. Em 97, como superintendente, foi campeão. Foram quatro vezes, cinco presidentes, e 12 anos de Corinthians. É um orgulho”, define o ex-comandante, natural de São Paulo.

A carreira de Teixeira, embora repleta de títulos por outras equipes nacionais e internacionais, está diretamente ligada ao Corinthians e a 1977. Do banco de reservas, ele viu Basílio estufar as redes da Ponte Preta e colocar ponto final em um tabu que resistia há 22 anos, oito meses e seis dias. E que, nesta sexta-feira, 13 de outubro de 2017, completa quatro décadas.

“Gozado que eu comecei no São Paulo. Trabalhei em outros clubes (19 ao todo), no Santos... Todo mundo só fala do Corinthians. Ninguém fala de Santos, São Paulo, é Corinthians! Aquele título teve importância ou não? Teve. Marcou. Nós estamos com 40 anos do título e está todo mundo comemorando”, frisa.

Algumas das relíquias ligadas ao Timão guardadas pelo professor Teixeira

Algumas das relíquias ligadas ao Timão guardadas pelo professor Teixeira

Vinícius Souza/Meu Timão

A intimidade com aquela campanha fez Teixeira registrar um dos motivos pelos quais o Corinthians demorou quase 23 anos para erguer um troféu de expressão após 1954. Convicto, ele assegura que a política de contratações do clube durante os anos 50 a 70 se resumia a inúmeras chegadas e saídas. Não havia, segundo ele, respaldo da diretoria aos jogadores que ali estavam.

O Corinthians perdia para ele mesmo. O que acontecia, o Corinthians perdeu do Cruzeiro do Palhinha, depois foi lá e trouxe o Palhinha. Para os dirigentes, sempre o jogador do outro time era melhor que os nossos. E não deveria ser assim”, resume.

Como dito acima, a vivência de Teixeira pelas alamedas do Parque São Jorge o credenciou a colocar no papel a temporada de 1977. Em 2005, o professor lançou o livro A história de um Tabu que Durou 22 anos, que chega à sua segunda edição em 2017.

Como um técnico à beira do campo, Teixeira manda o recado à reportagem como quem se prepara para mais um jogo decisivo: “Tudo isso é bonito, mas não vale nada. Tem que ganhar domingo. Pode falar o que quiser, se não ganhar, esquece”.

Leia alguns trechos da entrevista do professor Teixeira ao Meu Timão

Ideia de dar fim ao vaivém a cada início de temporada

Quando cheguei no Corinthians com essa ideia, passou 1965, 66, 67, 68, 69, 70 e 71. Aí eu apresentei por escrito para o clube começar o ano e terminar o ano com os mesmos jogadores. O Wadih Helu era o presidente, ele disse: ‘Teixeira, você está louco. Nós precisamos ganhar um título, então temos que contratar’, que era a filosofia do clube. Como ele não aceitou, eu fui embora. Larguei o Corinthians só porque ele não quis fazer aquilo que eu achava que era correto. Porque, senão, a gente todo ano ia continuar (sem ganhar).

Retorno em 76 e início da caminhada a 77

Eu estava tranquilo: ‘Vou esperar o Corinthians chamar’. Todo ano eles me chamavam, mas não queriam fazer aquilo. Quando chegou em 76, eles contrataram o Palhinha, porque perderam do Cruzeiro e já trouxeram o Palhinha. Perdeu pro Guarani na estreia do Palhinha, 3 a 0, e o Duque, que era o treinador, foi mandado embora. Aí eles me chamaram: ‘Teixeira, e agora, vamos fazer?’. Eu falei: ‘Qual a ideia de vocês?’. ‘A nossa ideia é trazer o Brandão’, porque o Brandão havia sido o último campeão, em 1954. Só que o Brandão não podia porque o filho dele estava doente. Nós falamos com ele, eu, o João Avelino (auxiliar) e o Bene (Dyas, preparador): ‘Deixa que a gente se vira!’. O Brandão foi, fomos com ele e começamos o ano com 23 jogadores, 20 de linha e três goleiros.

Novo estilo de jogo

Fomos adaptando uma forma de jogar que não machuca. Por exemplo, o jogador está sendo marcado, quando passa a bola para o companheiro, ele corre de encontro à bola e foge da marcação. Então, ele sai com a bola, tem mais tempo, mais segurança e evita o choque. Mas e para a gente colocar isso na cabeça do jogador, para treinar isso, para automatizar? Ele pegava a bola de primeira e continuava parado, e não era o que nós queríamos. Se ele continua parado, o zagueiro dá o bote, pega ele e pode machucar.

Aí pegou o jeito de jogar. Antes de ganhar o título, o Corinthians chegava no gol, se não chutasse, se voltasse a bola, o estádio inteiro virava contra. E para você dominar a torcida? ‘Toca a bola! Se não der pra jogar, volta e vamos começar outra vez’. A linha de conduta foi tão bem definida que ninguém fugiu. A gente manteve a linha.

Réplica, em tamanho reduzido, da taça de 77 pertencente ao professor

Réplica, em tamanho reduzido, da taça de 77 pertencente ao professor

Vinícius Souza/Meu Timão

Cobranças por parte da imprensa

Eles metiam o pau! Só que a gente fechou de tal forma o grupo que tudo o que falavam não entrava, não penetrava no grupo. A gente sempre estava batendo nesse capitulo da preparação mental dos atletas. Ele tem que vestir a camisa. Como o Brandão era um pai, um pai para todo mundo... Dentro de campo, o jogador morria por ele. Nós conseguimos, através dessa filosofia, colocar o Corinthians acima de tudo e o Brandão acima de todos, jogar pelo Brandão, pelo filho dele.

Sacada de João Avelino

Nós perdemos do Guarani (0 a 1) num domingo à tarde. No outro dia, o treino era à tarde. Então o João Avelino teve uma ideia: ‘Vamos marcar amanhã cedo o treino no Parque São Jorge, porque todo mundo vai pensar que é pra dar uma bronca nos jogadores’. Chegando lá, não falamos nada, os jogadores escolheram dois times no par ou ímpar, fomos para o campo e fizemos 15x15min de rachão, sem aquecimento, sem nada. Terminou o treino, todo mundo no vestiário, e aí o Brandão falou para todo mundo: ‘Nós não vamos falar do Guarani! Se alguém perguntar pra vocês – e toda a imprensa de São Paulo lá –, ninguém fala do jogo do Guarani!’. Aí fomos jogar contra o Botafogo lá em Ribeirão e canalizou a atenção.

Para mim, de tudo que foi feito, (o melhor) foi o golpe psicológico contra o Guarani, da ideia do João Avelino. O jogador, se ele joga hoje e fica a manhã inteira livre para treinar à tarde, os repórteres não vão ligar para ele? Ele vai falar do jogo que vem ou do jogo perdido? ‘Vamos marcar de manhã, assim não dá tempo deles serem entrevistados’. Nós ganhamos aí, e a ideia foi do João Avelino.

Contratações de Garrincha e Sócrates

Eu que trouxe o Sócrates, em 1978, como treinador. Para jogar de 9. Eu posso não ter feito nada no Corinthians, mas ter participado da vinda do Garrincha – porque eu que fui lá no Rio, o Brandão disse: ‘Vai lá e vê como ele está’. Então fiquei o dia inteiro na casa da Elza (ex-esposa de Garrincha), na Barra, pra ver se ele punha a mão no joelho, pois estava há muito tempo sem jogar. Então, ter participado da vinda do Garrinha, trazer o Sócrates para o Corinthians para jogar de 9, porque eu queria que todo mundo jogasse pra todo mundo. E deu certo, né, Sócrates e Palhinha...

Gol de Basílio

O Zé Maria bate a falta, passa na cabeça do Basílio, vai pro Vaguinho, que chuta com a esquerda na trave. Volta pro Wladimir, ele cabeceia, bate na cara do Oscar e volta no Basílio. Mas, dentro dos 90 minutos, vale, não interessa (risos). Mas a gente ganharia aquele jogo, não tinha jeito, deu tudo certo.

Eu cheguei à conclusão depois, muito tranquilo: a Ponte não ganharia aquele dia, porque tudo que a gente fazia dava certo, e tudo que eles faziam não dava. Era o nosso dia.

Atmosfera em torno da decisão

Ninguém fazia batucada naquele tempo, coisa que eu usava quando viajava para o exterior. No exterior, fuso-horário, longe de casa... Se você pelo menos cantar no ônibus, está exteriorizando, um comportamento já diferente do que você ir calado ao estádio. A turma do Corinthians era muito compenetrada, eles não faziam bagunça, de fazer gozação, não havia esse tipo de jogador.

Celebração e Basílio de sunga

Termina o jogo, invadem o campo. Não teve recebimento de faixa, recebimento de troféu, todo mundo correu pro vestiário. Mas do Basílio eu lembro: tiraram a camisa, chuteira, meia, calção e ele ficou de sunga (risos). E dali para ir embora? Todo mundo na rua esperando os jogadores saírem. Eles foram saindo um a um, disfarçados, de boné. Campeão depois de 22 anos e você não poder comemorar? Fomos receber a faixa um mês depois, no jogo contra a Portuguesa, no Pacaembu.

Faixa original entregue aos integrantes do elenco de 77

Faixa original entregue aos integrantes do elenco de 77

Vinícius Souza/Meu Timão

Saída do Corinthians em 1979

Eu era técnico do Corinthians e auxiliar do Cláudio Coutinho na Seleção Brasileira. Nós dois recebemos convite para ir para fora, nos Estados Unidos. Ele acertou com o Los Angeles Aztecs e eu com o Fort Lauderdale – que agora é Fort Lauderdale Strikers. Meia hora depois, toca meu telefone de casa, era o presidente do Millonarios da Colômbia. ‘Olha, nós estamos aqui na CBF para eles nos indicarem um treinador para organizar o Millonarios. Eles indicarem você. Podemos conversar?’. Eu disse que sim, mas que havia acertado com o Fort Lauderdale. ‘Você já assinou? Então nós vamos aí!’. Não vá me chamar de mentiroso: eu ganhava no Corinthians, como treinador, oito mil dólares por mês. O Fort Lauderdale ia me pagar dez mil dólares. Mas o Millonarios me deu uma quantia grande na mão e os dez mil por mês. Se eu tivesse ido para os Estados Unidos, até hoje estava lá. Eles são muito organizados.

'Campeão moral' de 79

Então indiquei o Jorge Vieira (ao cargo de técnico do Corinthians). Tanto que eu tenho aqui duas faixas de campeão, em 1977 e 1979. Eles vieram buscar meu filho para receber a faixa que o Jorge Vieira deu para ele, em agradecimento, porque eu que o indiquei, não tinha jogador machucado, não tinha jogador pendurado, era só deixá-los continuar jogando. Tenho uma entrevista dele aqui que ele fala: ‘Eu não ganhei o título, quem ganhou o título foi o professor Teixeira’.

Corinthians vs Arsenal em 1965

Eu fui, oficialmente, lá no jogo, o treinador porque o Brandão não tinha diploma. E naquele tempo era obrigado ter diploma para viajar para o exterior. Então, era obrigatório na delegação um chefe, um jornalista – que vai fazer um relatório para oficializar o evento –, um treinador diplomado e um médico brasileiro. Isso era obrigatório. Então, como o Brandão não tinha o diploma... Eu fiz isso no São Paulo, no Corinthians e em vários lugares, porque nenhum treinador tinha diploma da universidade. Como eu tinha, eu assinava. Tanto que no livro do Celso Unzelte (Almanaque do Timão) ele me colocou como treinador, e eu briguei com ele: ‘Não, senhor, você fale que quem era o treinador era o Osvaldo Brandão! Eu só assinei a súmula por causa da lei, mas não me ponha como treinador e tire o Brandão’. Eu o fiz tirar, e ele trocou.

(Nota da redação: Por uma única vez na história, o Corinthians entrou em campo com outro distintivo em seu uniforme. Em 16 de novembro de 1965, a equipe representou a Seleção Brasileira em um amistoso contra o Arsenal, em Londres, Inglaterra. O Timão acabou derrotado por 2 a 0).

Documentos armazenados desde 1968

Eu tenho tudo anotado à mão. E por que eu sempre fiz isso? É claro que o planejamento que eu entregava para o clube era datilografado. Em 1968, o Paulo Machado de Carvalho, chefe das Seleções Brasileiras, me pediu um planejamento para a Copa de 70. Eu fiz, mas não queria ficar sem nada. Em 68 eu tirei uma cópia, entreguei e fiquei com a original. A partir daí, eu tenho todos os originais.

Manifestações a favor de clubes melhor estruturados

Sempre briguei com isso, de centro de treinamento. Porque se você tiver bom material, boa alimentação, salário, você garante que vai ser campeão? Não. E se não tiver tudo bom, você tem uma garantia: não será campeão. Nós temos uma opção, que é fazer bem feito para ver se vai dar certo.

Hepta brasileiro bem encaminhado?

Não precisa ganhar, é só segurar, não deixar os outros subirem. Só vai segurando, porque os outros vão ganhar, perder e empatar... Faltam poucos jogos, o Corinthians está bem. Ele deu uma balançada porque, você está com uma menina no quarto no ‘bem-bom’, chega alguém e bate na porta. Fica igual? Por que acabou? Porque o poder de concentração acabou. Então como o Corinthians ganhou, ganhou e ganhou, o jogador vai para o treino preocupado ou tranquilo? Tranquilo, porque está ganhando. Esse é o problema. Ele não pensa no jogo, ele só vai pensar no jogo quando o árbitro apitar, e você não armazenou energia psicológica para enfrentar aquela situação. Porque, quando o jogador está perdendo, ele vai para farra? Ele vai para boate? Sai com mulheres? Não, não e não. Ele só pensa no jogo. Então perde o poder de concentração. É que você não consegue segurar o ano inteiro.

Elenco de Carille

O Corinthians vive em função do Rodriguinho, dois, três jogadores. E eles balançaram, então os outros não suportam. O não joga, joga o Kazim... Não pode. Vê a diferença? Agora, se o Kazim entrar cinco minutos porque já está ganhando, está tudo bem. Para entrar no lugar do Jô, as costas dele pesam muito. É complicado, então por isso que eu gosto de colocar moleque nessa hora, porque moleque não tem responsabilidade. O Kazim tem nome. Ele entra, faz aquelas barbaridades e não faz gol. E se ele não fizer gol, meu amigo, esquece...

Seu José mostra com orgulho título de cidadão corinthiano da Câmara Municipal de SP

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Vinícius Souza/Meu Timão

Veja mais em: História do Corinthians, Jogos Históricos, Técnicos do Corinthians e Parque São Jorge.

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