César Paula
Prezado Carille,
Abro esta carta para, inicialmente, se for possível, tranquilizá-lo em relação às perspectivas do nosso título. Seremos campeões. Faltando oito rodadas, uma vantagem de seis pontos é mais do que considerável. Mas lhe faço um alerta: é necessário, não, não é “necessário”, é mais do que isso, é fundamental, que você pare de confundir convicção com teimosia. É, sobretudo isso, que está fazendo com que o time esteja nessa espiral para baixo em que nos encontramos.
Você tem convicção em exagero com o Jádson, por exemplo, entre os onze titulares. Você deve ter na sua equipe alguém que cuida das estatísticas. Se tem e se as analisa sabe que ele erra simplesmente quase tudo que tenta no jogo: passes, dribles e chutes que nem mesmo tem arriscado. O passe que deu para o Jô fazer o gol contra o Coritiba foi quase que como um acerto na loteria. Há tempos isso não acontecia. Verifique, qual foi, não o último gol de falta do Jádson, mas a última vez que uma cobrança sua acertou o gol. Infelizmente ele não pode, no momento estar no time titular e digo infelizmente porque, além de ser aparentemente boa pessoa, já jogou muita bola no nosso time, mas isso faz tempo.
Você tem convicção demais com os seus escolhidos do banco de reserva. Marquinhos Gabriel, talvez o nosso campeão da irregularidade e o incrível Geovani Augusto (que você insiste que vai recuperá-lo - aliás, recuperá-lo do quê? – e Kazim que, sabemos, não deveria ter sido contratado e, contratado, não deveria ser relacionado. Mas você precisa parar de acreditar que não temos elenco. Temos, para o padrão nacional até que um bom elenco. Basta não ser teimoso. Vou lembrá-lo. Temos cinco volantes: Gabriel e Maycon, os seus intocáveis titulares e, Paulo Roberto (que fez a melhor apresentação individual de um jogador do Corinthians, contra o Grêmio no sul – a outra, penso, foi a do Romero contra o Palmeiras), Camacho (que também joga de meia e nesse momento ainda como meia é melhor que Jádson), Felipe Bastos e, para mim, o melhor de todos que já quebrou galho na lateral esquerda que é o Marciel, ele que nem passa perto na sua cabeça de você colocá-lo no meio, o que melhoraria em muito a nossa saída de bola. É claro que não temos substituto para todos. Fagner caiu muito. Arana caiu muito. O Pablo vive machucado e o Pedro Henrique tem perdido as bolas pelo alto. O Cássio não pode tomar os três últimos gols de escanteio que tomou. Eram bolas na pequena área e lá a bola deveria ser dele, mas ele tem nos salvado em demasia. Aliás, consulte o seu estatístico. Vai se surpreender com um dado: o Corinthians é o time que mais cede escanteios aos adversários. Isso é treino. Tem que ser conversado. Mas há algo que precisa ser perguntado a você, à sua comissão técnica e à diretoria que não te cobra uma resposta. O Corinthians tem no seu elenco jogadores comuns, como aliás, todos os times da séria A. O Corinthians tem um que é diferente, apesar de novo e ele nunca joga e, por vezes, nem é relacionado. Trata-se do garoto Pedrinho. O que acontece Carille? Não é à toa que o seu nome é sempre cantado na Arena. Ele é o único jogador do elenco que pode fazer o diferente. O único que pode quebrar as linhas burocráticas e definidas que quase todos os times têm. E você escolhe não escolhê-lo. Você escolhe o quadrado. Você escolhe a sua convicção.
Carille, já está na hora (passando da hora) de você perceber que não é a sua convicção que nos trará o título. Está na hora de você perceber que você tem peças nas mãos, é só deixar de ser teimoso.
Um abraço, e até o título.
