Nesta terça-feira, completa 20 anos da conquista do primeiro título mundial do Corinthians. Isso quer dizer que, torcedores que têm até 25, 28 anos, quase não tem lembranças e a dimensão do que ocorreu naquele torneio do início dos anos 2000.
Pensando nesses torcedores e também, claro, nos torcedores alvinegros em geral, o Meu Timão traz agora números, recordes e curiosidades sobre o I Mundial de Clubes da Fifa, competição essa que foi precursora do atual modelo de disputa entre clubes (com representantes de todos os continentes, além de um do país-sede). Veja abaixo:
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25 mil no Maracanã... como foi possível?
Cerca de 25 mil torcedores do Corinthians foram ao Maracanã naquele fim de tarde de sexta-feira, dia 14 de janeiro de 2000. Mas como foi possível tanta gente mesmo diante do Vasco, que é do Rio de Janeiro? A resposta tem quatro letras: Fifa. A entidade organizadora do torneio foi quem dividiu a carga de ingressos daquela final, com cerca de 60% para os vascaínos e outros 40% para os corinthianos. Os cerca de 25 mil ingressos foram enviados para a capital paulista e o próprio Corinthians foi quem fez a venda dos mesmos. A Fiel, então, ocupou os setores das arquibancadas verde A e amarelo A, além das cadeiras inferiores daquele mesmo lado do estádio (hoje esse setor é chamado de Lado Norte). Enquanto isso, os vascaínos ficaram com o lado B dos mesmos setores, além da arquibancada central e do setor especial das cadeiras centrais. Nos dias de hoje, a lei obriga que apenas 10% seja enviado aos visitantes.
225 ônibus, aviões, carros, vans, motos...
A presença de tantos torcedores do Corinthians no Maracanã foi resultado de muita paixão, mas também de mobilização e organização por parte dos próprios torcedores. Segundo o noticiário da época, apenas das três maiores torcidas organizadas do clube foram 225 ônibus, sendo 180 da Gaviões da Fiel e 45 da Camisa 12 e Pavilhão 9. Os ônibus saíram já na madrugada de quinta-feira rumo ao Rio de Janeiro, chegando ao estádio por volta das 14h. Soma-se a isso, milhares de torcedores que lotaram os aeroportos de Congonhas e Cumbica em busca de um lugar em voos que faziam a ponte aérea. Carros, motos, vans e ônibus de linhas tradicionais, como não poderia ser diferente, também fizeram parte da invasão.
Única decisão nos pênaltis
Primeiro mundial de clubes organizado pela Fifa, a edição de 2000 foi a única decidida nos pênaltis. Os outros 15 torneios interclubes organizados pela entidade máxima do futebol acabaram com vitória para um dos lados, sendo três delas durante a prorrogação (Barcelona 2x1 Estudiantes, em 2009; Real Madrid 4x2 Kashima Antlers, em 2016; e Liverpool 1x0 Flamengo, em 2019). Em 2000, Corinthians e Vasco empataram sem gols e no tempo normal. Na decisão por pênaltis, Rincón, Fernando Baiano, Luizão e Edu converteram para o Corinthians. Pelo Vasco, Romário, Alex Oliveira e Viola converteram. Erraram, por sua vez, Marcelinho Carioca (COR) e Gilberto e Edmundo (VAS). O Timão venceu por 4 a 3.
Dupla nova para parar Romário e Edmundo
Hoje respeitados ex-jogadores, os zagueiros Fábio Luciano e Adilson eram a grande preocupação antes da final contra o Vasco. O primeiro, mais jovem, faria apenas seu quarto jogo pelo Corinthians. O segundo, experiente, voltava de lesão no joelho e não atuava desde novembro quando teve de substituir João Carlos contra o Al-Nassr, no último jogo da fase de grupos. Tudo isso para parar Romário e Edmundo.
"Todo mundo sabe que o nosso forte não é a velocidade, somos dois zagueiros de sobra", comentou Fábio antes do jogo, reconhecendo que o posicionamento seria fundamental para vencer o desafio. Pedidos pelo técnico Oswaldo de Oliveira, porém, os dois fizeram jus à indicação e tiveram grande atuação, sendo elogiados pela crítica por não darem chances aos dois temidos adversários.
Corinthians ou Seleção Brasileira?
Todo mundo sabe que aquele Corinthians que disputou o I Mundial de Clubes de Fifa era bom e cheio de craques. O que pouca gente se dá conta é a quantidade de participações em Copas do Mundo de alguns deles. Entre os 11 titulares do Corinthians naquela final, seis jogadores foram à Copa do Mundo. Pela Seleção Brasileira, Dida (1998, 2002 e 2006), Vampeta (2002), Ricardinho (2002), Edílson (2002) e Luizão (2002). Pela Colômbia, Freddy Rincón (1990, 1994 e 1998). Em tempo: os outros titulares foram Índio, Fábio Luciano, Adílson, Kleber e Marcelinho Carioca.
Trocas de última hora
A eternizada escalação da final do Mundial não foi utilizada em nenhuma outra partida do torneio. Dois nomes (Índio e Adilson), aliás, provavelmente seriam reservas na decisão. O lateral havia perdido espaço para Daniel contra o Al-Nassr, na última partida da fase de grupos, mas o concorrente foi expulso contra os sauditas. O zagueiro, por sua vez, foi uma opção utilizada após a lesão muscular de João Carlos, também frente aos sauditas. Outra troca marcante se deu na lista de inscritos: Nenê chegou a constar em uma primeira relação enviada à Fifa, mas a entidade exigiu que o clube inscrevesse três goleiros. Dessa forma, Nenê, que até hoje consta no site da federação com a camisa 15, deu lugar ao jovem Yamada, hoje gerente das categorias de base do clube.
No Brasil, o único
O Mundial de Clubes da Fifa teve 16 edições entre 2000 e 2019. A única que foi realizada em solo brasileiro foi exatamente a primeira, conquista pelo Corinthians. Segue, inclusive, sendo a única disputada nas Américas. As outras edições foram no Japão (8), Emirados Árabes (4), Marrocos (2) e Catar (1). Em relação ao torneio de 2000, os jogos do Grupo A (Corinthians, Real Madrid, Al Nassr e Raja Casablanca) aconteceram no Morumbi, em São Paulo; as partidas do Grupo B (Vasco, Necaxa, South Melbourne e Manchester United), por sua vez, foram disputadas no Maracanã, no Rio de Janeiro, mesmo palco da finalíssima entre Corinthians e Vasco. Na época, o país pleiteava também sediar a Copa de 2006, mas acabou perdendo a disputa para a Alemanha.
Preços dos ingressos
Naquela tarde/noite de 14 de janeiro de 2000, o Maracanã recebeu dois jogos: Real Madrid x Necaxa, disputa do terceiro lugar na preliminar, e Corinthians x Vasco, disputa do título. Os setores e preços disponíveis foram os seguintes: Arquibancadas Verdes (R$ 15), Amarelas (R$ 20) e Central (R$ 30), além de Cadeiras Inferiores amarela e azul (R$ 15) e Inferior especial (R$ 60). Para que o internauta tenha uma noção do que esses valores significavam na época, os valores foram submetidos a uma atualização monetária, com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Atualizando com a inflação em janeiro de 2000 e novembro de 2019, chegamos aos seguintes novos valores: Arquibancadas Verdes (R$ 50), Amarelas (R$ 66) e Central (R$ 100), além de Cadeiras Inferiores amarela e azul (R$ 50) e Inferior especial (R$ 200).
Recorde da Band sem a Globo
A TV Globo optou por não comprar os direitos de transmissão do Mundial de Clubes de 2000, inclusive dando uma cobertura minúscula em seus telejornais. A Traffic, empresa responsável pelos acordos de televisão do torneio, então, vendeu os direitos a TV Bandeirantes. Que se deu bem na história. Muito bem, aliás. De acordo com o site Trivela, a partida entre Real Madrid e Corinthians deu a liderança do ibope para a Band. Entre às 18h45 (Brasília) e às 20h37 daquele dia 7 de janeiro de 2000, a emissora paulista teve média de 25,5 pontos de audiência contra 24,5 dos cariocas. A média normal da Bandeirantes nesse período era de apenas três pontos – cada ponto representa 80 mil telespectadores na Grande São Paulo. A final bateu 53 pontos ganhando com sobras do Jornal Nacional e da novela Terra Nostra. Foi a maior audiência da história da emissora. Fora do Brasil, de acordo com o noticiário da época, números também gigantescos. A emissora inglesa BBC alcançou 41% de audiência com a estreia do Manchester United contra o Necaxa, do México – apesar dos índices terem sido menores nos outros dois jogos da equipe. A Televisión Española chegou a 30% no primeiro jogo do Real Madrid. Até no Japão, cerca de 3 milhões de pessoas assistiram à final entre Corinthians e Vasco, graças a presença do zagueiro Adilson Batista, ídolo do Jubilo Iwata, que fora contratado pelos paulistas na véspera do torneio.
Festa dividida e telegrama do presidente
O triunfo sobre o Vasco foi tratado já à época como o maior título da história do Corinthians, mas a desgastante sequência de jogos daquele time minguou um pouco a comemoração. Foram incríveis 87 jogos disputados entre janeiro de 1999 e janeiro de 2000, com o título brasileiro sendo assegurado menos de duas semanas antes da estreia no torneio. Os jogadores, então, ganharam 20 dias de férias após a partida e dividiram a festa. Dida, Vampeta e Edilson foram do Rio direto para a Bahia, enquanto Ricardinho rumou para o Paraná. Oswaldo de Oliveira e Luizão permaneceram na capital carioca. Voltaram a São Paulo um grupo liderado por Kleber, Edu e Marcelinho Carioca, que comandou a festa no carro do Corpo de Bombeiros. Rincón, que havia feito sua última partida pelo clube na primeira passagem, preferiu ir de Guarulhos ao Parque São Jorge no ônibus, sem aparecer para os cerca de 2.500 torcedores que recepcionaram a delegação. Então presidente do país e corinthiano, Fernando Henrique Cardoso enviou um telegrama ao Timão parabenizando o clube pelo título.
Lei Cidade Limpa x Corinthians
Meses depois do título mundial, no intuito de enaltecer a conquista, a diretoria do Corinthians resolveu pintar os muros da parte de trás do setor de numerada da Fazendinha. Em 2007, porém, a frase "1º Campeão Mundial de Clubes da Fifa 2000" escrita em vermelho, que chamava atenção de quem passava pela Marginal Tietê, precisou ser retirada. O clube foi obrigado a se adequar à Lei Cidade Limpa, que regulamenta a propaganda externa na cidade de São Paulo. "Já foi avisado ao clube e o setor administrativo está retirando. É uma Lei da cidade e o clube tem de acatar para não pagar multa", lamentou o gerente de futebol do Timão, Ilton José da Costa, naquela época.
Como era o mundo naquele início dos anos 2000
Um levantamento do site oficial do Corinthians trouxe fotos e curiosidades do que acontecia no mundo naquele início dos anos 2000. A saber: Rivaldo era o melhor jogador do mundo depois de uma temporada espetacular pelo Barcelona (ESP); Gustavo Kuerten entrava no Top 5 do ranking após bons resultados em 1999; O Japão aguardava ansiosamente o lançamento do Playstation 2, novo console da Sony que já havia sido anunciado há tempos estava próximo de chegar nas lojas japonesas (no Brasil, o Playstation 2 chegaria somente no dia 18 de novembro de 2002); O mexicano Carlos Santana dominava o mundo da música com a música "Smooth"; Belo deixava o Soweto após seis anos para lançar carreira solo; Ronaldo se recuperava de sua primeira grave lesão; Rubens Barrichello se transferia para a Ferrari, onde conquistou sua primeira vitória na carreira, fazendo com que o hino nacional brasileiro voltasse a tocar após seis anos; Gisele Bündchen se tornava modelo número 1 do mundo com apenas 20 anos de idade; Popó detinha o cinturão de campeão mundial pela categoria super-pena.