A venda de zagueiros com desconto é pior do que parece
Opinião de Juliano Barreto
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João Victor, Raul Gustavo, Robert Renan e provavelmente Murillo. Em menos de duas temporadas, a comprovadamente incompetente diretoria do Corinthians se defez de três zagueiros jovens e promissores --e está próxima de “doar” mais um. Podemos discutir aqui se eles um dia vão chegar ao nível de um Marquinhos, da Seleção e do PSG, ou se vão seguir os passos menos glamourosos de um Yago da vida.
O fato é que os valores baixos das negociações mostram um grande descompasso do Corinthians com as tendências do futebol mundial.
Se você acompanha as notícias do futebol inglês,deve ter lido que o Manchester City pagou 90 milhões de euros para tirar o defensor Joško Gvardiol do Red Bull Leipizig. Os valores da transferência do croata de 21 anos inflacionados assustam, mas não surpreendem. De 2017 para cá, Guardiola torrou mais de 350 milhões de euros (ou cerca de R$1,8 bilhão) apenas para contratar zagueiros. Rubén Dias foi o mais caro (70 milhões de euros) e Manuel Akanji (18 milhões de euros), o mais “barato”.
O City de 2017 para cá não parou de ganhar títulos, mas não se acomodou no mesmo estilo de jogo. Há muito tempo Guardiola não joga no estilo tiki-taka do Barcelona. A obsessão por posse de bola é coisa do passado. O espanhol segue evoluindo e lançando tendências táticas ano após ano, e mais recentemente, seus defensores passaram a ter influência ainda maior no jogo.Basta lembrar de John Stones jogando como um híbrido de zagueiro e volante na final da última Champions.
Seja na Copa do Mundo ou na terceira divisão do Campeonato Paulista, todos os times (que têm pernas para isso) fazem algum tipo de “pressão alta”, ou seja, colocam atacantes e meias para marcar a saída de bola no campo do adversário. Na teoria, roubar a bola perto do gol facilita a vida do time, que tem menos “linhas de marcação” para quebrar. Ao mesmo tempo, colocar o time avançado, cria buracos na defesa. Raramente um zagueiro vai poder jogar “na sobra”, esperando de frente pelo ataque do adversário.
Nada disso é novidade, mas a diretoria do Corinthians falha em perceber que esse cenário inflacionou o valor dos zagueiros no mercado internacional. Eu detesto isso, mas o futebol de hoje virou um jogo onde o atacante tem que ser bom marcador e o zagueiro tem que ser o cérebro do time. Não só armando jogadas, mas também tendo habilidade para evitar a odiosa “pressão alta” e ainda por cima ter pulmão para cobrir os espaços no meio e nas laterais.
Os camisas 10 clássicos são raros, próximos das extinção devido à falta de espaço para jogar e pensar. Enquanto isso, os camisas 3 e 4 são cada vez mais importantes, afinal são os únicos em campo com alguns segundos a mais para dorminar e armar o jogo.
Seja no poderoso City ou no ASA de Arapiraca. Parece que só o Corinthians não vê isso. A diretoria se desfaz de defensores jovens, rápidos e com visão de jogo, ou seja, que têm as qualidades necessárias para jogar num “estilo Guardiola”, enquanto traz defensores velhos e pesados como Jemerson, Robson Bambu, Balbuena e Lucas Verissimo.
Vender Robert Renan a preço de liquidação foi um crime, mas o omisso conselho do clube assina embaixo de todos esses absurdos. Possivelmente Murillo deve seguir o mesmo caminho. Se a torcida acha que esses jogadores “não são tudo isso”, é preciso lembrar que eles são extremamente jovens e ainda tem muito potencial para ser explorado… infelizmente em outros clubes.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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