Venha fazer parte da KTO
x
Santinhos na coletiva, malandrões nos podcasts
Juliano Barreto

Jornalista, biógrafo, maloqueiro e sofredor. Entrar no Pacaembu para assistir Corinthians x Novorizontino no Paulista de 93 mudou sua vida para sempre.

ver detalhes

Santinhos na coletiva, malandrões nos podcasts

Coluna do Juliano Barreto

Opinião de Juliano Barreto

6.4 mil visualizações 93 comentários Comunicar erro

Santinhos na coletiva, malandrões nos podcasts

Recém aposentado Fábio Santos conta histórias de bebedeira quase toda semana em podcasts

Foto: Reprodução

Todo mundo sabe o que jogadores de futebol falam quando o microfone é apontado para eles. Em caso de vitória, “graças a Deus e ao empenho do grupo, conquistamos esse resultado importante frente a um grande adversário”, “O grupo todo está de parabéns”. Em caso de derrota, “hoje não saiu como queríamos, mas vamos levantar a cabeça e trabalhar forte para o próximo jogo, que também é muito importante”.

Jogadores jovens e consagrados repetem essas mesmas conversinhas semanalmente pelo resto da vida deles como profissionais, e apesar de não estarem mentindo, com certeza estão sendo pouco sinceros na maioria das vezes. No momento em que precisam dar satisfações e falar a real, eles se escondem atrás das respostas treinadas pelo “staff” deles, fazendo todo mundo de palhaço, principalmente os torcedores.

De uns anos para cá, porém, os podcasts com entrevistas descontraídas explodiram em popularidade e acabaram revelando algo que todo torcedor meio que desconfiava: os "pais de família" que "sempre dão o seu melhor em campo" nos bastidores são marmanjos que se comportam como moleques.

São milhões e milhões de views e likes toda vez que um jogador na ativa ou recentemente aposentado aceita o convite para conversar em algum “PodPah” da vida. Até aí, tudo certo, mas já notaram a diferença do discurso dos caras?

Nas coletivas de imprensa e entrevistas de campo, eles pagam de santinhos. “Lutamos até o último minuto, treinamos duro todo dia para melhorar, mas as coisas não deram certo hoje”. Já nos podcasts, o papo é sobre qual jogador do elenco bebia mais na balada, quais eram as desculpas mais engraçadas para enganar o técnico e não treinar, além de muita sabotagem e brigas por pura vaidade.

Em alguns casos, os ex-jogadores até tiram sarro das torcidas organizadas. Fábio Santos, o mais falastrão de todos, já contou às gargalhadas que os jogadores mal escutam as reclamações dos torcedores que exigem reuniões no CT. Douglas admitiu que fumava muito e não escondia de ninguém. Sheik admitiu que treinava pouco e só se esforçou um pouco quando pensou que seria difícil tomar a vaga de titular de Pato. Cássio e Fágner vivem dando indiretas e mostrando como ficam dodóis quando algum técnico faz críticas públicas. Até o Gustavo Mantuan, que mal jogou no profissional, já saiu falando que o ex-técnico não o respeitava, porque mudava ele de posição antes do jogo sem dar grandes explicações.

Bom, a lista de malandragens e melindres que emergem quando esses e outros “profissionais exemplares” que "deixam suas famílias de lado" para buscar a vitória “com a graça do Senhor” participam de "resenhas" em podcasts é bem longa.

Você provavelmente já ouviu essas e muitas outras.

E só para ficar bem claro: eu não sou moralista. Acredito que todo mundo tem o direito de beber, de sair, de fazer o que bem entender com o tempo de folga. O que me revolta é a distância entre o discurso “oficial” e o que realmente acontece nos bastidores.

Os jogadores de hoje que reclamam sobre protestos no CT, xingamentos em redes sociais e uma suposta "perseguição da imprensa", serão os mesmos que daqui a pouco vão contar que chegam virados em treino depois de encher a cara noite toda (mesmo com o time capengando e lutando para não ser rebaixado.)

Não acho que jogador deve ser santo. Só acho que os jogadores deveriam ser um pouco honestos com quem muitas vezes faz sacrifícios para ver o time jogar.

No melhor time do Corinthians que eu vi, aquele com Vampeta, Rincón, Marcelinho, Ricardinho, Edílson e Luisão, ninguém tinha dúvida do comportamento boêmio dos caras, mas eles se garantiam em campo. Se beberam demais, os maiores prejudicados foram eles mesmos pois poderiam ter ido ainda mais longe em suas carreiras. Mesmo assim, é incomparável a história e o desempenho da geração anterior se comparada aos milionários "pés de rato" de futebol atual.

Hoje em dia sobra falsidade e falta bola.

Veja mais em: Fábio Santos.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Avalie esta coluna
Coluna do Juliano Barreto

Por Juliano Barreto

Jornalista, biógrafo, maloqueiro e sofredor. Entrar no Pacaembu para assistir Corinthians x Novorizontino no Paulista de 93 mudou sua vida para sempre.

O que você achou do post do Juliano Barreto?

  • Comentários mais curtidos

    Foto do perfil de RICARDO

    Ricardo 6 comentários

    @ricardo.muller10 em

    Bela análise!
    E o pior é que esses pé de rato são recebidos nestes Podcasts da vida como se tivessem sido verdadeiros craques e com uma aura de semideuses.

  • Foto do perfil de Nightmare

    Ranking: 7095º

    Nightmare 270 comentários

    @kelvin.pereira2 em

    Acho que esse texto é um dos mais lúcidos e coerentes que eu jamais havia lido nesse site, parabéns ao autor, por mais opiniões corretas assim e menos corporativas pra fazer lobby pra conseguir entrevistas com esses mesmos pés de rato que acham que enganam os torcedores...

  • Publicidade

  • Últimos comentários

    Foto do perfil de Celso

    Ranking: 1257º

    Celso 1579 comentários

    93º. @celso.coccaro em

    As declarações dadas em campo são motivadas pela relação profissional. São falsas como é falsa a relação. Envolve para o jogador uma relação custo-benefício. Quanto mais ganhar e menos der em troca, melhor será. Depois da aposentadoria, os filtros somem junto com o término da relação profissional. Não precisam mais ser falsos. O futebol profissional evolui e criou um mundo com novos conceitos e valores. A torcida que sustenta esse mundo ainda olha para aquele que ficou para trás, da identificação com a camisa, com o clube, que andava junto com a remuneração. Exemplo, o saudoso Pelé. Quando a torcida se tocar do papel de boba que faz, talvez consiga mudar o futebol profissional, ou dar atenção a aspectos mais concretos da vida.

  • Foto do perfil de David

    David 51 comentários

    92º. @davidfiel em

    Esse tipo de postagem devia ser fixado eternamente aqui.
    Para quem fica com idolatria besta com jogadores, principalmente dessa nova geração pós 2000.

  • Foto do perfil de Guilherme

    Ranking: 1460º

    Guilherme 1386 comentários

    91º. @guilherme.ginjo em

    Não sou moralista, mas escrevi 5 parágrafos de moralismo barato

  • Foto do perfil de SILVA

    Ranking: 331º

    Silva 4224 comentários

    90º. @hellton em

    Concordo que existe uma idolatria desnecessária a jogadores de futebol, onde o meio do futebol produz certos comportamentos e tanto o mundo da bola, como o torcedor acaba aceitando como normal.

    Mas da mesma forma, acredito que existe o fator saudosista a ponto de aliviar pra gerações passadas, que sim, decepcionaram algumas vezes, davam desculpas esfarrapadas também e nem sempre tinham o comprometimento esperado, tanto na comparação entres gerações dos jogadores fracos, como nos multi campeões também.

  • Foto do perfil de Daniel

    Ranking: 1931º

    Daniel 1089 comentários

    89º. @daniel.mendes11 em

    Texto cirúrgico!