Santinhos na coletiva, malandrões nos podcasts
Opinião de Juliano Barreto
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Todo mundo sabe o que jogadores de futebol falam quando o microfone é apontado para eles. Em caso de vitória, “graças a Deus e ao empenho do grupo, conquistamos esse resultado importante frente a um grande adversário”, “O grupo todo está de parabéns”. Em caso de derrota, “hoje não saiu como queríamos, mas vamos levantar a cabeça e trabalhar forte para o próximo jogo, que também é muito importante”.
Jogadores jovens e consagrados repetem essas mesmas conversinhas semanalmente pelo resto da vida deles como profissionais, e apesar de não estarem mentindo, com certeza estão sendo pouco sinceros na maioria das vezes. No momento em que precisam dar satisfações e falar a real, eles se escondem atrás das respostas treinadas pelo “staff” deles, fazendo todo mundo de palhaço, principalmente os torcedores.
De uns anos para cá, porém, os podcasts com entrevistas descontraídas explodiram em popularidade e acabaram revelando algo que todo torcedor meio que desconfiava: os "pais de família" que "sempre dão o seu melhor em campo" nos bastidores são marmanjos que se comportam como moleques.
São milhões e milhões de views e likes toda vez que um jogador na ativa ou recentemente aposentado aceita o convite para conversar em algum “PodPah” da vida. Até aí, tudo certo, mas já notaram a diferença do discurso dos caras?
Nas coletivas de imprensa e entrevistas de campo, eles pagam de santinhos. “Lutamos até o último minuto, treinamos duro todo dia para melhorar, mas as coisas não deram certo hoje”. Já nos podcasts, o papo é sobre qual jogador do elenco bebia mais na balada, quais eram as desculpas mais engraçadas para enganar o técnico e não treinar, além de muita sabotagem e brigas por pura vaidade.
Em alguns casos, os ex-jogadores até tiram sarro das torcidas organizadas. Fábio Santos, o mais falastrão de todos, já contou às gargalhadas que os jogadores mal escutam as reclamações dos torcedores que exigem reuniões no CT. Douglas admitiu que fumava muito e não escondia de ninguém. Sheik admitiu que treinava pouco e só se esforçou um pouco quando pensou que seria difícil tomar a vaga de titular de Pato. Cássio e Fágner vivem dando indiretas e mostrando como ficam dodóis quando algum técnico faz críticas públicas. Até o Gustavo Mantuan, que mal jogou no profissional, já saiu falando que o ex-técnico não o respeitava, porque mudava ele de posição antes do jogo sem dar grandes explicações.
Bom, a lista de malandragens e melindres que emergem quando esses e outros “profissionais exemplares” que "deixam suas famílias de lado" para buscar a vitória “com a graça do Senhor” participam de "resenhas" em podcasts é bem longa.
Você provavelmente já ouviu essas e muitas outras.
E só para ficar bem claro: eu não sou moralista. Acredito que todo mundo tem o direito de beber, de sair, de fazer o que bem entender com o tempo de folga. O que me revolta é a distância entre o discurso “oficial” e o que realmente acontece nos bastidores.
Os jogadores de hoje que reclamam sobre protestos no CT, xingamentos em redes sociais e uma suposta "perseguição da imprensa", serão os mesmos que daqui a pouco vão contar que chegam virados em treino depois de encher a cara noite toda (mesmo com o time capengando e lutando para não ser rebaixado.)
Não acho que jogador deve ser santo. Só acho que os jogadores deveriam ser um pouco honestos com quem muitas vezes faz sacrifícios para ver o time jogar.
No melhor time do Corinthians que eu vi, aquele com Vampeta, Rincón, Marcelinho, Ricardinho, Edílson e Luisão, ninguém tinha dúvida do comportamento boêmio dos caras, mas eles se garantiam em campo. Se beberam demais, os maiores prejudicados foram eles mesmos pois poderiam ter ido ainda mais longe em suas carreiras. Mesmo assim, é incomparável a história e o desempenho da geração anterior se comparada aos milionários "pés de rato" de futebol atual.
Hoje em dia sobra falsidade e falta bola.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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