30 de maio: o dia em que pouco importará o resultado de um jogo do Corinthians
Opinião de Lucas Faraldo
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Caminhões, navios e aviões com carregamentos de ajuda humanitária chegam quase diariamente à Venezuela de diferentes lugares do mundo. A fronteira com países como o Brasil abre e fecha com a banalidade com a qual você leitor do Meu Timão abre e fecha uma torneira no seu dia a dia. Falando em torneira, falta água no país vizinho, assim como energia elétrica. Falta paz também: eles estão há meses vivendo o auge de uma guerra civil – semana passada tanques de guerra dos militares apoiadores do ditador Nicolás Maduro avançaram sobre a população que protestava em meio à projeção (do Fundo Monetário Internacional) de uma inflação de 10.000.000% (dez milhões por cento) somente em 2019.
Difícil imaginar que um país assim possa abrigar uma partida de futebol. Pois será lá que o Corinthians, no próximo dia 30 de maio, decidirá vaga às oitavas de final da Copa Sul-Americana contra o Deportivo Lara. A experiência promete ser ainda mais chocante que a do ano passado, quando, ainda comandado por Fábio Carille pré-viagem à Arábia Saudita, o Timão venceu os venezuelanos por 7 a 2 em duelo válido pela Libertadores.
A diretoria do Corinthians já se preocupa com a logística da viagem de sua delegação à Venezuela, tendo recebido relatos de atleticanos e cruzeirenses que enfrentaram dificuldade para viajar até o país vizinho em recentes compromissos pela Libertadores. Talvez mais impactantes que tais relatos, porém, sejam as lembranças dos próprios corinthianos sobre a viagem de 2018 – a tal goleada sobre o Lara completa um ano na próxima sexta-feira.
A coluna ouviu nas últimas horas pessoas que estiveram na viagem corinthiana à Venezuela. As lembranças são das mais escandalosas: mulheres se prostituindo por 5 dólares (valor hoje equivalente a meio saco de arroz no país) em frente ao hotel onde os jogadores ficaram hospedados; salário mínimo equivalente a dois sacos de arroz; proteção policial com militares altamente armados para qualquer deslocamento do Corinthians pelas ruas de Barquisimeto, cidade do estado de Lara; a mera saída do hotel já era considerada área de risco segundo alerta das autoridades locais; dezenas de funcionários do hotel se emocionaram e fizeram fila para receber "vaquinha" de cerca de 3 mil dólares da delegação alvinegra.
Faça ou não sentido, a decisiva partida entre Corinthians e Lara acontecerá. E muito provavelmente na própria Venezuela; se não lá (há possibilidade de ser mandada em outro país por questões de segurança), será de toda forma disputada por um time venezuelano composto por elenco quase todo venezuelano representando venezuelanos.
E aconteça o que for pós-jogo – classificação ou eliminação corinthiana –, não haverá clima para comemorar ou se revoltar. O resultado de um jogo de futebol do Corinthians, neste 30 de maio, será minúsculo diante do que passam os cidadãos da Venezuela nos tempos atuais.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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