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Apenas um rapaz latino-corinthiano
Lucas Faraldo

Editor e apresentador no canal do Meu Timão no YouTube

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Apenas um rapaz latino-corinthiano

Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Opinião de Lucas Faraldo

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Apenas um rapaz latino-corinthiano

Vagner Love abraçando Sornoza durante treino do Corinthians

Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Dois assuntos indiretamente conectados (Corinthians e gringos) foram temas de conversas hoje na redação do Meu Timão. Mais cedo, enquanto terminava de escrever uma matéria sobre o pintor uruguaio e diretor do Montevideo Wanderers que pintou um quadro em admiração à Fiel, vários torcedores criticavam e ironizavam Sornoza nos comentários da notícia sobre a convocação do meia corinthiano pela seleção equatoriana.

Papo vai papo vem entre os loucos que escrevem por aqui para o bando de loucos do qual também fazemos parte, nos pegamos num debate sobre xenofobia no (futebol do) Brasil.

Não que seja exclusividade de Sornoza ou outros gringos serem excessivamente criticados pelos torcedores. Mas já bem adiantava Ángel Romero quando bateu ano passado na tecla da xenofobia: os estrangeiros são vistos com olhares diferentes (o que também, e infelizmente, não é exclusividade do Brasil).

Para um gringo ser de fato muito elogiado, ele tem de jogar muito bem; se joga mal, automaticamente é colocado no rol dos que jogam muito mal. Parece que temos uma necessidade extra de julgar um jogador (ou uma pessoa, quando a questão extrapola o futebol) se este for de outra nacionalidade. Romero, aliás, que o diga: alternou momentos em que era considerado ora o pior ora o melhor estrangeiro da história do Corinthians. Sornoza, longe de ser impecável, evolui mês a mês e é quem mais dá assistência no time em 2019, mas mesmo assim é impiedosamente criticado (no que, acredito eu, tem muito a ver com a primeira má impressão deixada no início do ano quando escalado errado por Carille).

Deixando o clubismo de lado (e convidando os leitores a fazerem o mesmo), o venezuelano Soteldo é hoje um dos jogadores em melhor fase no Brasil. E joga no líder do Campeonato Brasileiro. E mesmo assim não se fala tanto nele quanto se fala em Pedrinho, Dudu ou qualquer um dos inúmeros brasileiros de salários exorbitantes do Flamengo. Pior do que tudo isso: Soteldo, ao desembarcar num país ridiculamente preconceituoso contra a Venezuela, foi ridicularizado por vários comentaristas de programas esportivos por ser... venezuelano.

Indo além: se há essa discriminação (para o bem, em exceções de idolatria como Tevez ou Guerrero por aqui, ou para o mal, em quase todos os outros casos) dos brasileiros para com os outros latino-americanos, há na contramão um endeusamento relacionado a tudo e todos que vêm da Europa Ocidental. Será que o espanhol Juanfran será xingado por aqui caso não dê certo no São Paulo? Ou relevarão dizendo que já está velhinho, que ajuda na exposição internacional das marcas, etc.? Fazendo um paralelo: com o chinês Zizao, era piada atrás de piada - inclusive feitas pelo próprio Corinthians - quase sempre atreladas à nacionalidade, antes mesmo de o jogador ter qualquer oportunidade de realmente engatar.

O brasileiro, de forma geral, é um bicho muito esquisito (olha eu talvez sendo xenófobo). Somos latino-americanos, mas discriminamos nossos irmãos históricos. Fomos (e somos) culturalmente dizimados há séculos, mas admiramos cegamente quem nos coloniza. E o futebol, reflexo social dos mais perfeitos da humanidade, escancara isso diariamente.

Talvez certo mesmo esteja o pintor uruguaio e diretor do Montevideo Wanderers. Com 49 anos, o também professor e jornalista Daniel Supervielle mostra que há uma forma muito mais bonita de enxergar os estrangeiros - principalmente os latino-americanos. Para que julgar se podemos simplesmente enxergar o belo onde as pessoas teimam em não enxergar nada (ou se esforçam para enxergar o feio)? É isso que o pintor fez ao se encantar com a torcida do Corinthians. Simples. Belo. Sem excessos.

Eu pintaria hoje um quadro do Romero. Do Sornoza. Do Guerrero e do Tevez também. Até do Zizao. Tá, do Johnny Herrera, não.

Apenas divagações de um rapaz latino-corinthiano. Se depois de aqui acabar, você ainda quiser me xingar, xingue-me logo, agora...

Veja mais em: Sornoza, Torcida do Corinthians, Romero e Ídolos do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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