[Roberto Picelli] Se a diretoria não se pronunciar

Opinião de Roberto Piccelli
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Saída do goleiro Felipe inaugurou era de saídas mal explicadas
Foto: Divulgação
Em 2010, o goleiro Felipe vinha de boas temporadas pelo Corinthians. Apesar de uma falha na final contra o Sport, tinha se destacado na luta contra o rebaixamento e, pouco depois, no memorável título da Copa do Brasil de 2009. Muitos corinthianos, como eu, sentiram quando ele deixou o clube repentinamente por uma proposta do modestíssimo Sporting de Braga, ainda mais porque, segundo a diretoria, o atleta teria forçado a saída. Anos depois, em 2020, Felipe desmentiu publicamente a história contada pelos dirigentes.
Ao longo dos últimos quinze anos, outros casos similares aconteceram, como as conturbadas saídas de Mano Menezes em 2014 e de Carille em 2019, e vários desmontes justificados pelo discurso de jogadores que supostamente fariam de tudo para sair e do célebre “não adianta segurar”.
O resultado é que hoje em dia os mais atentos desconfiam de tudo o que é divulgado para explicar decisões impopulares do clube. A impressão geral é que se combina uma versão atenuante em que a responsabilidade dos dirigentes é repartida com um universo de jogadores insatisfeitos, técnicos sem vestiário, e até problemas familiares. Os envolvidos são cobrados a se comprometer com essa versão - ou ao menos a não desmenti-la.
Vejam agora o que aconteceu.
Desde 2017, o Corinthians vinha enfrentando tempos difíceis, com trabalhos que não se firmavam. Os técnicos, um após o outro, tinham dificuldade para impor os seus métodos de trabalho aos caciques de um elenco desmotivado para desafios à altura do clube e em franco declínio físico. A vinda da equipe portuguesa mudou esse quadro, e o Corinthians, depois de anos, entusiasmou o seu torcedor. Além do direcionamento técnico, houve nítida melhora no condicionamento de alguns jogadores. Passou-se a ver uma lógica clara até mesmo na contratação de reforços. Havia esperança de um 2023 melhor.
É evidente, portanto, que a eventual decisão de descontinuar esse trabalho não seria muito bem-recebida, ainda mais se, em vez de substituir a equipe técnica por profissionais de currículos semelhantes, a diretoria optasse por recorrer a soluções mais incertas. A doença da sogra do Vitor Pereira, porém, ao menos soava como uma explicação conveniente para explicar o fim de um ciclo. Afinal, problemas de saúde da família ninguém controla.
O rápido e inesperado acerto do ex-técnico com um rival como o Flamengo escancara algo muito grave nesse caso. Alguém foi enganado sobre a real motivação da sua saída do Corinthians: ou foi a torcida ou foi a própria diretoria. É por isso que, se a enganada foi a diretoria, ela tem obrigação de vir a público denunciar o ocorrido, até porque a negociação para que o contrato fosse renovado supostamente aconteceu enquanto Corinthians e Flamengo disputavam um título nacional - há explicações a cobrar. Se ela não se pronunciar de maneira contundente, todo o histórico acima me levará a acreditar que foi mais um jogo de cena. Serei obrigado a acreditar que os dirigentes, na melhor das hipóteses, sempre souberam que o problema não era a sogra.
Por fim, desejo sucesso ao Fernando Lázaro, porque é uma pessoa séria, competente e identificada com o clube, mas lamento que ele tenha sido promovido de maneira atabalhoada e em circunstâncias tão difíceis. Espero que a torcida dê a ele a moral necessária para gerir o grupo em 2023.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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