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Quem é o corinthiano da camisa estampada a carvão
Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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Quem é o corinthiano da camisa estampada a carvão

Seu Vilson e Michel: amizade e solidariedade

Foto: WFJr.

Nesta semana, o Brasil se comoveu com a foto de Letícia Vilar, que exibia um guardador de carros trajando uma camisa comum, de botões, que tinha nas costas o símbolo do Corinthians desenhado à mão.

Horas depois, a imagem havia viralizado na Internet e mobilizava milhares de corinthianos interessados em conhecer o personagem e presenteá-lo com uma camisa do clube.

Mas, afinal, quem é o cidadão que tanto fez refletir os apaixonados pelo futebol?

Seu nome é Vilson de Paula Afonso, nascido em Suzano, na Grande São Paulo. Vai completar 53 anos em 16 de fevereiro. É um trabalhador, desde criança, lutando pela sobrevivência.

Durante muitos anos, ajudou a erguer a São Paulo dos arranha-céus. Atuava como um dedicado apontador de obra, ou seja, como o profissional que faz registros da produção, controla a frequência da mão de obra, confere cargas e verifica documentações, fazendo a ponte entre o canteiro e o escritório.

Depois, se dedicou a inúmeras outras atividades laborais. Na área da Vila Carrão e do Tatuapé, pertinho do Parque São Jorge, trabalhou como instalador em mídia exterior, sobretudo de fachadas comerciais.

Em 2006, veio a Lei Cidade Limpa, que empurrou à falência inúmeras agências que atuavam no setor. Seu Vilson viu sumir seu ganha-pão.

Por um tempo, ele pretendeu unir o útil ao agradável, e ajudou a guardar carros nas proximidades do estádio do Pacaembu. Ali, estaria próximo de sua grande paixão, o Corinthians.

A vida se complicou e o corinthiano acabou precisando dormir na rua. Vive ainda hoje sob marquises, nos cantinhos cobertos que a arquitetura da cidade deixou aos excluídos.

A maior parte do tempo passa na Lapa, entre as ruas Clélia e Aurélia. Ganha seus trocados especialmente dos frequentadores da igreja Bola de Neve. Aos sábados, costuma atuar na Alameda Itu, não longe da Avenida Paulista.

Sem mulher ou filhos, a família de Seu Vilson se resume aos irmãos, que vivem na periferia paulistana. "Ah, mas não é certo morar com eles, não quero tomar o espaço já pequeno deles e dos sobrinhos", explica. "De vez em quando, faço uma visita e volto para o meu lugar".

O guardador não esconde seu sonho: assistir a um jogo na Arena de Itaquera. "Eu passei lá outro dia e vi aquela coisa enorme, bonita, o estádio; será que um dia eu vou entrar aí?", pergunta. "É muito incrível".

Seu Vilson confessa emocionado que o Corinthians é seu companheiro, na alegria e na tristeza. "Esse clube é mais que um clube, é emoção, alegria, é meu tudo", afirma. "É devoção, como tenho a Jesus Cristo; se estou triste, penso em Jesus, e penso no Corinthians, aí me alegro tudo de novo".

Segundo ele, foi um choque ver que sua camisa do Corinthians (com estampa industrial) tinha sido roubada de um varal, dias atrás.

Como não tinha meios para adquirir outra, usou carvão e uma caneta esferográfica para reproduzir o símbolo e o nome do clube em uma camisa comum. "Carvão, porque é preto, preto e branco, cores do nosso time".

Luana, funcionária da Lanches Clélia, conta que conhece o guardador há cinco anos. "Olha, é gente muito boa, decente e que sabe das coisas", conta. "Ele senta aí, lê seu jornal, toma uma cervejinha e comenta todos os assuntos, de um jeito bem inteligente".

Seu Vilson já recebeu uma camisa oficial do Corinthians, entregue por Letícia Vilar, autora da foto que o fez famoso.

No entanto, o primeiro a realizar a façanha de contatá-lo foi Michel da Silva Souza, de 34 anos, dono de duas bancas de jornal na Barra Funda, membro da Fiel Inajar, grupo que costumeiramente se empenha em atividades de cunho social.

Michel "uniformizou" o guardador e fez um novo amigo. Neste sábado, bem cedo, levou-o para cortar o cabelo e aparar a barba, em um estabelecimento na Rua Roma, ali na Lapa.

Depois, o conduziu até um campo de futebol de várzea, na Zona Norte, onde o torcedor pôde conhecer membros da velha guarda dos Gaviões da Fiel. Em seguida, seu caminho foi a quadra da torcida organizada.

"É o que podemos fazer para integrar este irmão corinthiano, que merece o nosso carinho", explica Souza, conhecido por façanhas épicas em alambrados dos estádios. Foi quem obteve, por exemplo, a camisa de Ronaldo Fenômeno, depois do primeiro gol do craque, em Presidente Prudente, contra o Palmeiras.

Na tarde chuvosa, jogando dominó com seus novos amigos, Seu Vilson ganhou uma camisa do Coletivo Democracia Corinthiana (CDC), que desenvolve ações no campo cultural e social.

Vestiu-a alegremente e posou para fotos. Contou que era a décima primeira que recebia desde que sua imagem se espalhou pelas redes sociais.

"Agora, vou precisar de um guarda-roupas para colocar tanta camisa linda, tanta coisa que gostei de ganhar", brincou. "Estou muito feliz com o que está me acontecendo; muito obrigado".

Na verdade, nós é que temos de agradecer, Seu Vilson. O senhor ofereceu a toda Nação uma espetacular lição de corinthianismo. Tu és orgulho!

Veja mais em: Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Walter Falceta

Walter Falceta Jr. é paulistano, jornalista, neto de Michelle Antonio Falcetta, pintor e músico do Bom Retiro que aderiu ao Time do Povo em 1910. É membro do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO).

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