O que Sócrates, o basquete corinthiano e a Copa do Mundo da Rússia têm a ver?
Opinião de Lucas Faraldo
3.9 mil visualizações 19 comentários Comunicar erro
Um pequeno grande gesto de Gustavinho chamou atenção na última sexta-feira, no ginásio do Parque São Jorge, durante comemoração da equipe masculina de basquete do Corinthians, campeã da Liga Ouro. Responsável por erguer o troféu, o armador vestiu camiseta com os dizeres: "Quem matou Marielle?"
Gustavinho, assim, protestou contra a falta de respostas por trás do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco. A morte completava exatos cem dias naquela noite de festa corinthiana. Cem dias e nada de concreto sobre o autor ou o mandante do crime que calou uma mulher negra defensora das minorias.
Na mesma sexta-feira, os suíços Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri comemoraram os gols da vitória de sua seleção na Copa do Mundo com protestos contra a Sérvia, adversária daquela partida. Ambos são descendentes da Albânia e fizeram sinal em alusão a Kosovo, país de população majoritariamente albanesa e cuja independência não é reconhecida pelos sérvios.
Vários torcedores do Corinthians reclamaram da atitude de Gustavinho, inclusive na seção de comentários aqui do Meu Timão. Aposto que muitos devem ser os mesmos que veem a Copa ou qualquer outro evento esportivo como "pão e circo". Ora, mas querem melhor ingrediente do que protestos para um evento deixar de ser mera e suposta alienação política?
Lá na Rússia, quem não gostou nem um pouco dos gestos de Xhaka e Shaqiri foi a Fifa, que abriu processos disciplinares contra os jogadores suíços. A entidade (suíça, por sinal) proíbe manifestações políticas em suas competições. Nada de surpreendente se tratando de uma instituição falida eticamente e investigada até pelo FBI por crimes dos mais variados...
Não aceitar protestos pacíficos contraria os princípios da democracia. Ainda mais quando se trata da luta por direitos humanos e/ou de minorias. Torcedores do Corinthians inclusive deveriam saber disso melhor do que ninguém: Sócrates e a Democracia Corinthiana estão na história para provar a força sócio-política existente por trás do esporte.
Basquete, futebol e qualquer outra modalidade têm atenção da mídia; seus protagonistas, poder de representatividade entre torcedores e cidadãos. São assim espaços e agentes de diálogo e discussão. Por meio do esporte, é possível dar voz àqueles que geralmente não têm. É possível mudar o mundo para melhor.
Esporte e protestos sócio-políticos não podem se dissociar jamais. Por mais Gustavinhos, Xhakas e Shaqiris!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
Avalie esta coluna
Veja mais posts do Lucas Faraldo
- Pra além da bomba, Rojas dá recado ao Corinthians
- Os dois diferentes perfis de reforços que Corinthians tenta contratar para 2024
- Corinthians encaminha três boas contratações. Mas torcedor se preocupa com razão
- Um motivo pra acreditar nos três 'bagres fake' do Corinthians para 2024
- Corinthians enfim acerta na busca por reforços com Augusto Melo
- Por que Augusto se revoltou com anúncio de Duilio do novo patrocínio do Corinthians