Corinthians e nazismo. Estranho, né?
Opinião de Lucas Faraldo
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Estranho Corinthians e nazismo aparecerem numa mesma frase, né? Diria repugnante.
Vou escrever sobre um assunto que, no campo do extracampo, é importante no Corinthians. Tem gerado polêmica entre torcedores. E voltou a ficar em evidência nos últimos dias impulsionado pelo discurso de Roberto Alvim. Você que é corinthiano e provavelmente brasileiro certamente ficou sabendo sobre a demissão do agora ex-secretário da cultura do governo, resultado da péssima repercussão de uma fala inspirada no nazismo – na qual pregou retórica e ideais iguais aos de Hitler e seu ministro de propaganda e cultura, Goebbel,
E que cargas d'água o Corinthians tem a ver com isso? Vamos lá.
O Corinthians, não de forma inédita, se posicionou em meio a uma polêmica alimentada pelo atual governo. Nas redes sociais, o clube prestou solidariedade à comunidade judaica (ofendida com o rumo que o país toma, como explícito no episódio da pasta da cultura). O Corinthians fez citação ao Holocausto e escreveu a mensagem "nazismo nunca mais".
Já havia sido assim ano passado quando, no aniversário do Golpe Militar de 1964, enquanto as redes sociais ferviam com a posição de admiração do atual governo à Ditadura, o clube fez menções à Democracia Corinthiana. O icônico movimento do início dos anos 80 é considerado pelo próprio Corinthians um dos marcos de seus 110 anos de história.
O fato de o clube se posicionar sutilmente sobre tais temas incomodou muita gente - só olhar os tweets abaixos. E gerou briga entre torcedores nas redes sociais. Em resumo: torcedores favoráveis ao atual governo não se sentem representados pela postura do Corinthians.
Fica quieto. Fica quieto. Vai cuidar dos teus problemas que são muitos. Tá querendo agradar quem?
— Tio Charlie (@vdevida_) January 17, 2020
Legal a mensagem, que tal fazer uma postagem contra o comunismo que matou 100 milhões de pessoas no mundo?
— Márcio Pera (@marciopera) January 17, 2020
Afinal: por que o Corinthians se posiciona contra esse tipo de discurso? Pelo simples fato de que faz parte da história do clube caminhar ao lado de causas progressistas, como a inclusão de jogadores negros no elenco quando muita gente ainda não aceitava o fim da escravidão ou a própria fundação por operários e trabalhadores. Há mais de cem anos, quando o elitismo reinava no futebol em São Paulo com times de ricos e estudantes, foi o catadão do Bom Retiro, entre aqueles times que disputavam os principais campeonatos estaduais, quem abraçou pobres e analfabetos da capital paulista. Daí o "Time do Povo".
E abraçar o povo é realmente abraçá-lo: é defender direitos humanos, é se indignar com postura nazista, é defender a história como ela foi e é. E isso está... Na história. Do clube!
E nada disso é ruim, certo? Tente não rotular como esquerdista, governista, direitista, antigovernista... É impossível achar errados os posicionamentos do Corinthians. Ou você torcedor e leitor defende tortura? Defende nazismo? Porque aí não teria como debater...
Postura progressista como essa do Corinthians deveria estar no sangue não só de qualquer corinthiano, como de qualquer ser humano. Talvez, aliás, nessa sutileza é que esteja a beleza em ser corinthiano.
PS: para uma próxima ocasião, podemos debater sobre as muitas ações sociais e culturais que o Corinthians vem promovendo nos tempos atuais, preenchendo inúmeras lacunas das esferas municipais, estaduais e nacionais. E olha que, se bobear, o clube faz mais por seres humanos (corinthianos ou não) do que, por exemplo, o tal ex-secretário já citado aqui...
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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