Um telefonema de Gobbi. E o impeachment em quarentena no Corinthians
Informação de Lucas Faraldo
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Assim me foi parafraseada a conversa que Mário Gobbi Filho teve há alguns dias com Andrés Sanchez por telefone: "Deixa eu te explicar uma coisa: vou votar contra a aprovação das contas. Essa conta não pode ser aprovada porque coloca o clube em risco de sair do Profut*. Estou te avisando para você não ter surpresa, porque sei do peso de um ex-presidente reprovar as contas."
Nessa segunda-feira, em live do Movimento Corinthians Grande, pelo qual deve se lançar candidato de oposição à presidência do clube no próximo mês de novembro, Gobbi não entrou nos detalhes do telefonema dado a Andrés, mas confirmou o voto pela reprovação.
O posicionamento de Gobbi simboliza um isolamento cada vez maior de Andrés Sanchez. Ainda mais porque o atual presidente, também recentemente, havia sondado em vão o próprio Gobbi sobre a possibilidade de contar com o apoio do ex-aliado para manter a Renovação & Transparência no poder entre 2021 e 2023.
Simboliza também a possibilidade real de impeachment da qual Andrés provavelmente escapou graças à paralisação das atividades do clube pela pandemia do novo coronavírus. O possível processo de afastamento entrou em quarentena. E explico abaixo.
Há chance real de uma reprovação das contas de 2019 do Corinthians (entenda abaixo a projeção). A votação estava prevista para acontecer neste mês de abril. No caso de reprovação, como manda o estatuto, abre-se precedente para requisição de impeachment (algo que os conselheiros de oposição prometem fazer de imediato). O processo, por sua vez, possivelmente seria finalizado ainda em 2020, antes portanto da saída de Andrés do cargo (dezembro) e talvez da própria nova eleição presidencial (novembro).
Com a chegada da Covid-19 ao Brasil e a previsão de pico do número de casos para os meses de maio e junho em São Paulo, porém, os conselheiros corinthianos sabem que dificilmente os portões do Parque São Jorge serão reabertos antes de julho ou agosto (e olha lá). É praticamente certo, portanto, que a votação pela aprovação ou não das contas acontecerá apenas no segundo semestre. E aí, caso se confirme a reprovação, não haverá tempo hábil para o processo de impeachment correr antes do fim do mandato de Andrés.
Projeção da aprovação ou reprovação das contas
O resultado da votação das contas se dá por maioria simples entre os conselheiros que votarem. São convocados os 200 eleitos e os 133 vitalícios. Em tese, deveriam votar por critérios técnicos. E, tecnicamente falando, os pareceres preliminares à votação devem todos ser contra a aprovação: Conselho Fiscal, Cori e auditoria independente.
Em outras palavras: são os conchavos políticos que podem salvar Andrés Sanchez e garantir a aprovação das contas diante da provável apresentação de um déficit de R$ 140 milhões ao Conselho, contrariando a previsão orçamentária de R$ 650 mil de superávit. O endividamento do clube a essa altura já deve bater a casa dos R$ 700 milhões. Números precisos não são de conhecimento já que o clube não divulga balanço faz dez meses.
Dito isso, vamos à projeção da politicagem.
Entre os vitalícios, boa parte tradicionalmente não comparece. Em tempo de coronavírus, que faz de idosos o principal grupo de risco, a expectativa é de que um número ainda menor dê as caras na votação. Cresce assim a importância dos conselheiros divididos em oito chapas de 25 cada.
Segundo apuração da coluna, a divisão política grosso modo é a seguinte atualmente:
- Oposição: São Jorge, Corinthians Supremo e Inteligência Corinthiana;
- Situação: Preto no Branco, Renovação & Transparência e Tradição Corinthiana;
- Em cima do muro: Mosqueteiros e Fiéis Escudeiros.
Esses dois últimos grupos são mais fiéis a Paulo Garcia, que concorreu à última eleição como oposição, mas segue aliado de Andrés e possivelmente sairá candidato da situação com apoio da Renovação & Transparência (entenda melhor no vídeo acima). Ainda assim, não se sabe o que Garcia fará na votação das contas. Nem seus escudeiros, mosqueteiros & cia.
Olhando por cima, o favoritismo pende à aprovação das contas mesmo contrariando todos os prováveis pareceres técnicos. Nos bastidores, porém, já se sabe que muita gente dos grupos neutros ou favoráveis a Andrés têm se afastado da atual gestão. São os dissidentes.
Somados aos que votam por caráter técnico e aos da política que fazem parte de oposição e dissidência, há também os situacionistas que têm vergonha de contrariar pareceres técnicos e assim tendem a não comparecer. Claro que há também os "oposicionistas" que não querem estragar suas imagens com a turma de Andrés e preferirão também jogar os votos no lixo.
No meio de tantas possibilidades, acredita-se ser possível reprovar as contas. Principalmente com o ganho de alguns meses de luta nos bastidores pela conversão de alguns votos. A ver. E tudo remotamente, claro: online ou por ligações telefônicas.
Se tem uma coisa que segue a todo vapor no Corinthians, é a política do clube. Em ano eleitoral então... Parece já ter até anticorpos contra o novo coronavírus!
* O risco de saída do Profut se deve a uma das regras do acordo de parcelamento da dívida pública dos clubes: o Corinthians não pode ter déficit superior a 5%** de sua receita. Esse limite, hoje, beiraria R$ 22,5 milhões. As contas, porém, devem ser apresentadas no vermelho em R$ 140 milhões (há quem preveja até R$ 170 milhões de déficit).
** Errata: a coluna havia se equivocado e publicado 20% inicialmente.
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