Ex-presidente do Corinthians critica Tite e relembra venda de 'joia da coroa' da base para a Europa
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Por Meu Timão
Ex-presidente do Corinthians entre 2012 e 2015, Mário Gobbi relembrou o período de convivência com o técnico Tite, hoje no Flamengo. Antes, porém, o dirigente criticou a ida do treinador ao clube carioca e explicou quais razões o levaram a não retornar ao Parque São Jorge.
"Acho que o Tite não voltou para o Corinthians porque ele é bom para remar para a frente. Quando ele precisa fazer uma reformulação, não sabe fazer. Tite é 100% coração e ia ter lá oito jogadores do tempo que ele treinou em 2012. E isso para o Tite. E ele não é 100% profissional. É 80% profissional e 20% coração. Em 2013, quando saímos fora da Libertadores, eu chamei o Tite, disse que não tínhamos mais dinheiro e precisava limpar o time. Conversei com os jogadores mais caros, pedi para eles procurarem clube e falei ao Tite para começar a por Felipe e Marquinhos, porque precisávamos vender", disse em entrevista ao podcast Tomando Uma Com..., nesta segunda-feira.
Na virada para a temporada de 2024, o Timão passou por reformulação no elenco, com a saída de nomes mais experientes, casos de Gil, Fábio Santos, Giuliano e Renato Augusto. De acordo com Gobbi, Tite, há 11 anos, não conseguiu executar o processo de renovação, que viria após os títulos da Libertadores e do Mundial, em 2012. Apesar dos elogios à qualidade técnica de Tite, o ex-mandatário relembrou a derrota por 4 a 0 sobre a Portuguesa, no Brasileiro de 2013, em que o treinador, que sairia no fim daquela temporada, colocou o cargo à disposição.
"Depois de três meses, ele não colocou ninguém, então chamei de novo. 'Tite, e a reformulação?'. Ele me disse: 'eu não consigo, presidente, são meus filhos, meus parceiros, me deram títulos'. Então, no final do ano, não renovei contrato com o Tite. Me deu muito trabalho o Tite. Ele pediu demissão no vestiário, chorando na frente de todo mundo, dos jogadores, lá em Mato Grosso, quando perdemos da Portuguesa de 4 a 0. Ele ganhou, é muito bom, mas tem um outro lado dele que vocês não conhecem, entendeu? Ele não ia vir para cá agora porque não ia fazer isso com o Cássio, com o Fábio Santos, com o Gil, com o Fagner, com o Paulinho", afirmou Gobbi.
Outro episódio marcante em sua gestão foi a venda do zagueiro Marquinhos, atualmente no Paris Saint-Germain, da França. Em agosto de 2012, o clube alvinegro negociou o jovem defensor, à época com 18 anos, junto à Roma, da Itália, por empréstimo de 1,5 milhão de euros e, em janeiro de 2013, foi negociado em definitivo. O ex-presidente do Timão explicou que Tite não via muito futuro no atleta, que disputou duas Copas do Mundo sob o comando do técnico.
"Chegou uma proposta para o Marquinhos por 5,5 milhões de euros da Roma. Falei: não vendo. E pressão, facada, toma, vai e vem. Eu não queria vender, ele era a joia da coroa. Tanto que falei: eu só vendo o Marquinhos se o Tite sair do CT e vier aqui na minha sala e disser para mim que ele não tem futuro. Na semana seguinte, o Tite saiu do CT, no carro do Roberto (de Andrade), foi na minha sala e disse: 'Presidente, o Marquinhos não vai dar zagueiro, ele é franzino, é baixo, não ganha bola no alto, não tem impulsão. O máximo que o Marquinhos vai ser é um lateralzinho, talvez um volante. Então, não quero e não vou mais relacionar o Marquinhos", lembrou.
Com apenas 15 jogos no elenco profissional do Corinthians, o zagueiro campeão da Copinha, em 2012, se adaptou rapidamente ao futebol italiano e logo foi vendido ao PSG no ano seguinte, que pagou 31,4 milhões de euros (cerca de R$ 91,5 milhões). Por lá, se tornou capitão e pilar da defesa parisiense e da Seleção Brasileira. Mário Gobbi lembrou que Tite deu preferência para a contratação do volante Guilherme (citado como Gabriel pelo ex-presidente), da Portuguesa, em meio à saída de Marquinhos.
"Ele me falou que queria um segundo volante para preparar para o lugar do Paulinho, que ia para o Tottenham. Perguntei quem ele queria. Ele disse que queria o Gabriel (sic), da Portuguesa. Eu falei: você tem certeza do que tá me falando? Tem três pessoas aqui presenciando essa conversa. Então, como ele disse que não ia relacionar, eu falei: então vende o Marquinhos e compra o Gabriel da Portuguesa. Ele ficou seis meses no Corinthians e não jogou mais. Eu falei: 'Tite, você vai pagar caro por isso'. E quem errou o pênalti na última Copa do Mundo? Marquinhos", finalizou Gobbi.
Citado pelo ex-presidente, o volante Paulinho, que hoje se recupera de lesão grave no joelho, não foi vendido na mesma época do zagueiro Marquinhos. O meio-campista, vale lembrar, foi negociado junto ao Tottenham, da Inglaterra, em julho de 2013, por 20 milhões de euros (aproximadamente R$ 58,3 milhões na época).