
Em dezembro de 2004, foi firmado um contrato de parceria entre Corinthians e a Media Sports Investment (MSI), um fundo de investimento sediado em Londres, representado no Brasil pelo empresário iraniano Kia Joorabchian.
Naquele momento, o Timão acumulava cerca de 20 milhões de dólares em dívidas e não tinha dinheiro para contratar reforços depois de campanhas ruins. Foi então que apareceu o empresário Renato Duprat, torcedor do Santos e responsável por levar a empresa de planos de saúde Unicor à falência. Este, prometeu investidores da Europa para investir recursos na equipe. Durante sua caçada, ele conheceu o Kia. Assim, iniciou-se a parceria.
O início do contrato
O contrato garantiu à MSI o controle do departamento de futebol do Corinthians durante 10 anos, negociando contratos e, assim, podendo ter lucro na venda de jogadores. Para o clube, a vantagem seria contar com um elenco de alto nível trazido pela MSI e com os benefícios prometidos pela empresa, como a construção de um estádio e a criação de um canal de televisão por assinatura exclusivo - realizações distantes na época.
No primeiro ano, a MSI investiu cerca de 115 milhões de reais em contratações e trouxe ao Corinthians nomes como Carlitos Tevez , Mascherano, Nilmar, Carlos Alberto, Roger e o técnico argentino Daniel Passarella, demitido depois de perder para o São Paulo no Pacaembu, na terceira rodada do Brasileirão. Esse investimento rendeu ao Corinthians o título de Campeão Brasileiro de 2005 com o argentino Tevez sendo o craque do elenco.
As polêmicas sem fim
Em 2006, a parceria começou a entrar em crise, com as investigações sobre a origem do dinheiro da MSI, os desentendimentos entre Kia e os dirigentes do Corinthians e a fatídica derrota na Copa Libertadores para o River Plate, que revoltou a Fiel. O Timão chegou a descumprir o contrato e o grupo foi parando de investir.
As investigações da Polícia Federal geraram uma série de acusações contra a MSI, Kia Joorabchian, o presidente Alberto Dualib e o vice-presidente Nesi Curi. Os crimes listados foram lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha.
Descobriu-se também o envolvimento do magnata russo Boris Berezovsky, condenado em seu país por fraude financeira, como cabeça do negócio. Ele é famoso por seu envolvimento com a máfia russa, o que reforça a ideia de que a MSI veio ao Corinthians com a forte intenção de tornar lícito o dinheiro de fontes obscuras. Fala-se em movimentos da ordem de 61 milhões de dólares de origem desconhecida.
Antes do Timão, Boris teria feito ofertas para comprar um jornal esportivo, uma emissora de televisão e a empresa aérea Varig, com o intuito de começar a investir no Brasil. O Corinthians, então, foi o meio encontrado para iniciar a lavagem de dinheiro no país.
Kia foi apontado no Ministério Público e na Polícia Federal como laranja de Boris. Após os escândalos, a MSI deixou sua sede no Brasil abandonada. Kia e Boris voltaram para Londres sem punição e deixaram o Corinthians com uma dívida de 90 milhões de reais entre luvas, contratos e salários, onde se destacam a dívida ao jogador Nilmar e ao técnico Passarella.
Na época, o Timão deixou de figurar seu nome apenas nas páginas esportivas e começou a aparecer nos jornais policiais. O presidente Dualib, então com 86 anos, foi obrigado a renunciar do cargo - o mesmo aconteceu com todos os seus vice-presidentes.
O rebaixamento e o crescimento da dívida
Em junho de 2007, o contrato foi, por fim, rompido. Na ocasião, a torcida corinthiana pressionou pela saída da antiga administração, envolvida nos crimes cometidos pela MSI: os torcedores foram às ruas e protestaram pela queda de Alberto Dualib. A crise também se estendeu ao futebol. Em 2007, o Corinthians sofreu o pior revés de sua história, a queda para a série B do Campeonato Brasileiro, fruto de um elenco mal formado e um time em dívida.
A partir de 2008, na série B, já com Andrés Sanchez na presidência, o Corinthians começou sua reestruturação para superar os problemas deixados pela MSI e pela má administração dos anos anteriores, que já não buscavam o crescimento do clube e sim o lucro direto aos dirigentes. O novo presidente assumiu uma dívida de 37 milhões de dólares.
Embora a parceria com Kia tenha provocado muitas dores de cabeça, o Timão ainda continuou fazendo negócios com o iraniano. Em 2018, por exemplo, ele se encontrou com então presidente Andrés Sanchez em Londres. Estes foram fotografados junto ao ex-atacante Ronaldo e a família do zagueiro Marquinhos.